sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Crônica de uma vida deturpada

Que E. Galeano me perdoe por ironizar seu título...


Uma sensação enorme de vazio. De perda de esperanças na raça humana, nos sonhos, no futuro... Embora sempre haja tempo e vontade de algumas pessoas. Descrença, desânimo, desgosto.
Talvez esta alergia demora um longo período a passar [se passar].
Outro dia vi um documentário sobre o Che. Pela primeira vez acho que consegui pensar o que ele pensou nos seus últimos minutos. É isso que estou sentindo.
Mas apesar da vontade de todo canceriano de morrer como mártir, me falta a aspiração a fazer algo de tamanha grandeza que mereça essa honrada morte. Não, a vontade é de partir desse mundo sem deixar nada pra trás, e de não levar nada comigo. Devaneio, talvez. Talvez os últimos devaneios que uma mente que vive a margem da insanidade e da criatividade consiga produzir. Tristeza, mesmo, e só.
Não aquela de chorar e de ficar se lamuriando sobre os porquês. Simplesmente o fim da linha, alguém que não consegue enxergar as lentas melhoras. Doce ironia, uma pessoa com sensibilidade tão aguçada desistindo de seus sentidos.
Cansei de ver pessoas insossas. De ver que as ruas têm movimento mas não têm vida. Talvez seja este meu problema também, e eu fujo. Talvez eu também não tenha vida, e inspiração para querê-la. E de fato, não gostaria mesmo. Seria bom que o mundo acabasse de sopetão, e no outro lado se resolvesse tudo. Ahh, mente egoísta!..
Feliz mesmo é imaginar que talvez a mesma decepção que ele teve eu tenha agora. Feliz sim, pois um admirador faz de tudo pra chegar perto de seus admirados, mudando até mesmo seu pensar.
Apenas decepção com tudo. Tentarei ouvir o que o silêncio me diz e averiguar se o ar puro já se tornou nocivo para mim.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Alergia

É como se mesmo as melhores pessoas do mundo não fossem capazes de serem boas companhias.
Tem dias que simplesmente bate uma alergia a seres humanos. Tudo é ruim, quase nada se aproveita.
Eventualmente, claro, passa.
E volta de novo depois.

sábado, 27 de outubro de 2007

A garota que rouba corações

Ela é a garota que roubou o sorriso da Monalisa
[E o aperfeiçoou].
Ela é a garota que roubou o meu coração
O meu, o seu, o de todos nós
[E no melhor sentido da expressão]!
É a garota que tornou a brancura da pele
Em algo admirável, pelo conjunto da sua obra...
Que definiu o sorriso
Como algo pra se lembrar sempre.
É a garota que com seus olhos
Pode derreter qualquer olhar severo
É o fogo que corta qualquer gelo...
É a estátua que ganhou vida
E arrebata não por ser inalcançável
Mas por ser simplesmente bela e doce
[E com um coração que guarda todos os nossos, roubados por ela]...

Realidade momentânea

Sempre parece real, sempre parece perfeito.
Sempre parece que não acaba.
Sempre parecemos melhores.
Tudo sempre parece posssível.
Não devíamos abrir os olhos...

domingo, 21 de outubro de 2007

Fade-out

Take 4

Som abafado
As fibras do carpete absorvem mais do que isso
Lágrimas secas e interrompidas
Indiferença de um lado, revolta de outro
Os pés calçam os sapatos...
É um até mais disfarçado de adeus...
Mil sentimentos em ebulição e explosão
Desculpas não mais adiantam
Olhar distante...

Reflexo

O sol bateu ainda fraco e sem força no vidro fosco
Primeiras horas do dia, silencioso
O vento calmo ainda dispersava as nuvens
Quando o reflexo da manhã traçou suas linhas no chão
O que aconteceu nesse tempo
Ínfimo e ao mesmo tempo interminável
Que pensamentos aconteceram
Neste tempo?

A música acompanhava meus pensamentos
O café já veia adentro como combustível
Queimando minutos
Coração a mil
O que aconteceu neste momento?

Foi o tempo que passou
Ou eu voei?
Não fôra, ao certo, um sonho
Eu surfava o mar de prédios
Com a mesma paixão adormecida pelo verdadeiro

Lapsos de microsegundos
Que povoaram minhas idéias
Como relâmpagos
Tentei acompanhá-los
Me perdi no meio do caminho
Quando o pensamento parou em você

E então os microsegundos se tornaram infinitos
Como ficção científica nonsense dos anos 60's

E eu desisti de contar os pensamentos
Pois me perder no meio do caminho
Me perder e me encontrar sozinho
Se tornou um vício

Quando naquele reflexo que bateu no chão
Eu só pude pensar em uma coisa

O sol que batia no vidro ganhou calor
Por alguns momentos me senti auto-suficiente
Em sorrisos indecifráveis

sábado, 20 de outubro de 2007

Quem é você?..

Por onde você anda? O que você faz e com quem você faz? Sobre o que você conversa? Você conversa ou mata o tempo? Você aproveita o tempo? O que você vai deixar?..


Não se assuste com a[s] pergunta[s]. Quantas vezes você já parou pra pensar no que fala, no que faz, no que não faz?
Somos obrigados a quase tudo, obrigados a ver tv, obrigados a não pensar no que não devemos, obrigados a consumir... E então, quem somos nós?
Eu digo o verdadeiro ser de cada um. Estamos em extinção, essa é a verdade.
Os seres pensantes estão deixando de existir, amortizados por uma vida sufocante e torturadora. Sem pânico, é isso mesmo.
Não conseguimos mais nos dedicar ao que gostamos, e se o conseguimos, é um luxo!
Então fazemos coisas mecanicamente, sem parar pra pensar se gostamos ou se aquilo é realmente algo lúdico. Não mais nos dedicamos a conversas inteligentes [claro, salvo sob raras e felizes exceções], não falamos o que pensamos, não fazemos o que pensamos. Estamos nos acomodando, e isso é muito perigoso.
Lugares questionáveis, amizades questionáveis, atitudes, conversas etc... Deixamos escapar nossos verdadeiros pensamentos várias vezes por preguiça, cautela, etc etc. Estamos correndo sério risco de ficarmos atrofiados, indo no sentido contrário da evolução [alguns aliás já estão neste retrocesso há dezenas de anos].

Se não pararmos o mundo pra nos dedicar a transmitir o que nós somos, não vai mais haver mundo daqui um tempo. Ainda há esperança nas idéias de quem não aceita simplesmente tudo que é obrigado a engolir, nas idéias de quem contesta.
As famílias estão se extinguindo, e eu tenho pavor de colocar neste mundo mais uma vida condenada, como tantas outras pessoas que pensam o mesmo.
Então, cabe a nós pavorosos termos um pouco mais de pulso -e de estômago- pra reparar um pouco do mal que fazemos, e quem sabe [quem sabe], ainda deixar algo de bom pro futuro...

[falar que isso é utópico já é um péssimo entendimento...]

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Fade-out

Take 3

O barulho do sapato no granito dos corredores
Paredes que combatem o barulho
Assim como os corações lutam contra os sentimentos
Querendo acreditar que as separações também são boas
E, por fim, a madrugada ajuda a tornar certo o duvidoso.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Fade-out

Take 2

O horizonte [ainda] é verde.
Verde, vento, tempo, pensamento
Tudo se cruza, tudo se julga.
Os cabelos que insistem em cair no rosto
Provam que o tempo continua a passar
Há de se aceitar.




-
[quando eu terminar as 6 partes, juntarei tudo e colocarei pra baixar] ;]

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Sobre um nome composto...

Tem Ana que é nome de música
Tem Ana que foi política, tem Ana atriz
Tem Ana que até estação de metrô é
Tem Ana que foi santa, tem cantora e modelo
As Anas são diversas, por um nome que é democrático
Algumas mais belas, algumas mais encantadoras, algumas muito cativantes.

Cláudia também tem atriz
Também tem modelo, cantora e repórter
Também é diversificado e justo
Mas não pode se dizer jamais ser um nome comum
Algumas pessoas, sim, são comuns, tendo seus nomes distribuídos ou não

Outras... Sobressaem de tudo
Nos fazem parar para observar suas expressões
Repetir em silêncio seu nome, incorporando a imagem ao som das vozes na memória
Nos fazem querer fazer de tudo por elas
Ser seu salvador, porto seguro e refúgio

Nos fazem ficar sem ação ou palavra quando mais precisam delas
Porque são capazes de nos deixar atônitos...
Como se estivéssemos olhando para uma pintura
E às vezes, de fato, o são. Pinturas vivas, e lindas.

domingo, 14 de outubro de 2007

a.m.

Os pássaros cantam sem se importar com a manhã cinza
A maioria dorme, num horário em que não há nada mais que fazer
Na cozinha o café pingando do bule parece um conta-gotas
Ou uma bolsa de sangue das que se usam ao doá-lo
A manhã é demasiado silenciosa, contrariando os que gostam do movimento da noite
Mas é tranqüila e reflexiva, assim como o leve sereno que cai
Estranho num dia de domingo.

O mal estar matutino se agrava com o café deslizando corpo adentro
Mal auto-provocado, de risco conhecido
Vício programado.

Ao contrário do dia que se levanta lento, os planos são de movimento
Uma certa coragem em se desvencilhar da preguiça
Ou talvez curiosidade em analisar quantos farão o mesmo
O coração é leve, talvez como nunca em uma manhã como essa
Ou talvez envelhecido, como a bebida fermentando dentro de um tonel.

É uma época certamente de muitos talvez
Ao passo que outrora fôra talvez de muitas certezas
Ambos se reciclam, se fundem, se transmutam
E na próxima época já não se sabe mais
E nem quer saber. Aproveita.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Review: 'Um Convidado Trapalhão'

The Party, [1968]. De Blake Edwards. Com Peter Sellers e Claudine Longet.

Mais uma parceria que deu muito certo: Blake Edwards, Peter Sellers e Henry Mancini. Responsáveis, entre outros, pela "Pantera Cor-de-rosa". Edwards com a história e o roteiro, Sellers o ator e Mancini o autor da famosa música da Pantera.

Neste caso, o filme mostra um ator indiano muito atrapalhado e humilde numa festa de 'grã-finos' da Sociedade Hollywodiana. Suas confusões são impagáveis e já garantiriam em si o filme, se não fosse por Longet, cantora francesa que arriscou alguns filmes na sua carreira, e aqui está maravilhosa. E ainda canta uma música com o violão, este vídeo logo abaixo.

No outro trecho uma das muitas trapalhadas de Sellers.
[Ótimo filme].




terça-feira, 25 de setembro de 2007

Anti-síndrome de Estocolmo

Outrora as assombrações eram penosas. Perseguiam em sonhos, datas, devaneios. Quando o consciente não lhes dava atenção, buscava as armas do sub-consciente, que era bem mais cruel.
Mas mesmo as piores assombrações deixam de assustar, e eventualmente, acabou de fato acontecendo. Os fantasmas perdem força com o tempo, com os novos olhares, com as novas chances que o pensarpositivamente traz.
E, com o tempo, novos fantasmas podem surgir. Talvez menos cruéis, que não nos deixe tão paranóicos, insones, auto-destrutivos... E coisas do gênero.
Talvez assombrações viciantes. Que você teme, mas não pode ficar sem. Que se tortura quando te rodeiam, mas se sente melhor ao seu lado, quando te assombram, do que nas horas ou dias restantes em que não se manifestam.
E qual não é a dúvida do ser em questão assombrado em fazer algo mais para fazer parte da vida dos fantasmas... Mas fazer o que, e como? Fantasmas servem para isso mesmo, qualquer aproximação terá suas conseqüências, e estas indagações são uma tortura psicológica enorme.

Enfim, fantasmas já foram amedrontadores e torturadores... Hoje são um vício inexplicável.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sumido!


- Oi! Tudo bem com você?.. Ta sumido!...

- Pois é. Estou sim.

- E o que tem feito?


- Nada.





[É assim que um desocupado se sente...]

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Review: 'Dolls'

Dolls, 2002. De Takeshi Kitano, aclamado diretor japonês. Um filme que foi premiado por sua direção de arte, iluminação e fotografia, mas seu principal triunfo foi o Leão de Ouro em Veneza, 2002. [cartazes abaixo]

 cartaz internacional



Faz quase um ano que eu vi o filme pela primeira vez, não sei por quê só fui ver de novo agora, mas isso me fez ver alguns detalhes que passam despercebidos quando se vê um filme cheio de beleza visual pela primeira vez.
E é isso que o filme tem. Detalhes maravilhosos, fotografia muito bela [comum em filmes orientais].
O título se explica no começo do filme, ao exibir um teatro de bonecos japoneses. Este teatro, muito tradicional por lá, sempre apresenta tragédias envolvendo os personagens, manipulados sempre por pessoas na frente do público.
É uma introdução para as três belas e tristes histórias de amor que o filme conta. Não recomendado para quem tem peso no coração, pois o filme é mesmo triste. E maravilhoso.

Abaixo, o trailer

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Desmemórias- capítulo 04

Ele esperava pela consulta no oculista. Vez ou outra sempre encontrava uma desculpa para ver o ex amigo de colégio, lhe perguntar sobre as cirurgias corretivas, os óculos novos... Mas na verdade eram mesmo desculpas. Ele ia lá, já há alguns meses, apenas para olhar a recepcionista/secretária. Tinha desenvolvido uma certa admiração por ela, bonita, de olhar bonito, mas com um algo mais indecifrável, engimático. E quão frustrante era algum desses dias em que passava por lá e não a encontrava, até decorar seu horário de trabalho. E ao cansarem, ambos, de trocas de olhares que eram como pontadas no coração, decidiu-se por esperá-la sair do consultório um certo dia.
A feição dela não era de surpresa. Talvez esperasse por isso, talvez quisesse ter feito algo mais para que ele entendesse sua mensagem. Mas não podia mais do que lançar seu olhar fixo e profundo, esperando dele uma palavra, uma atitude.
O rosto dela lhe povoou a mente por alguns dia. Aqueles cabelos caídos minuciosamente sobre os olhos, a pele branca, alva. Alguns dias com o cabelo solto, era a visão de seu dia.
Pensava nisso enquanto a esperava em frente ao estacionamento da clínica. Abordou-a, conversaram. Veio a carona, o café no barzinho, o jantar. E então, as baladas, as trocas de confidências, o 'relacionamento' estava montado. Tudo ao longo de vários meses, muito bem aproveitados por ambos. Se davam bem, viam-se duas ou três vezes por semana, dependendo de suas ocupações. Ele um freelancer em fotojornalismo, ela fazendo faculdade e trabalhando para pagá-la. Era o 'começo' de algo, nenhum dos dois se preocupava em aonde iria dar.

-

Deitado na areia ele lembrava de quando haviam se conhecido, dos dias em que ele ia ao consultório apenas para vê-la, sem ao menos contar para o seu amigo, patrão dela.
Pensava, sem saber por quê, no começo deles. Incomodava-lhe o fato de terem brigado, mas ele tinha uma leve impressão de que ainda poderiam resgatar o que tiveram antes. Tentava imaginar como lembrando de quando se conheceram. Ao sair do apartamento dela, na noite anterior, pegou o carro e desceu logo em seguida para a praia. Um 'apertamento' que conservava lá a duras penas, e que fôra muito frequentado quando o romance ainda era novo, mesmo sendo eles 'liberais', como gostavam de chamar.
Tinha quase uma certeza de que qualquer relacionamento que tivesse seria assim, penoso, se perguntando freqüentemente se aquilo que eles tinham não seria, de fato, o melhor e mais verdadeiro posssível.
Cansara de pensar. Sabia que não poderia ligar, depois da discussão de ontem. Também não queria ligar. Resolveu ficar o dia na praia, tentar pegar algumas ondas, limpar a mente para voltar com o espírito renovado para a conversa que teriam. Seria a última?

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A madrugada é meu elemento

Hora de silêncio. Enqüanto [quase] todos descansam, só o ruído do computador ligado e das teclas batidas com afinco e calma, ao mesmo tempo.
Na rua o silêncio. A lua se o céu é claro, e se está nublado, não é de todo mal. Nos prédios quase nenhuma luz acesa, e as que persistem certamente pertencem a outros notívagos. Pessoas à parte do normal, transformam a noite em dia e dela aproveitam o máximo, ao custo de algumas horas de sono.
Um mundo paralelo que apenas se desenvolve enquanto a penumbra cobre as ruas. Os que em casa trabalham ou se divertem, os que do lado de fora preferem andar a pé, de preferência acompanhados de boas conversas e bebidas. Apenas o barulho profano de alguns carros e ônibus que insistem em dizer que a madrugada também tem vida.
A vida... Incrivelmente efervescente, abafada pelos clubes fechados de música absurdamente alta ou barzinhos de música ao vivo com pessoas que vivem da e para a madrugada;
Ou então reprimida pelos apelos dos que tentam dormir e se incomodam com o som dos passos e risadas daqueles que passeam pelas ruas. Aqueles que amam ainda mais a madrugada por ser transgressora, comportamental e moralmente horário de dormir, apenas.
Ser dela um amante não é tarefa fácil, e é recomendável aprender desde cedo, o que reforça seu caráter 'transgressor', pois jovens andando pela madrugada, numa mistura comumente de drogas e álcool geralmente não resulta em boas conseqüências. Mas há os que, felizmente, não se deixam levar pelo seu breu acobertante. Aprendem a aproveitá-la, horas escassas que fazem falta no dia seguinte.
É a hora de libertação. Os escravos do horário comercial podem relaxar, beber alguma coisa [a quantidade ou o teor alcóolico depende de cada um], falar palavrões com amigos [não em caráter desrespeitoso, apenas extravasando], andar sem rumo definido, mas principalmente, conversar: é quando cada um pode falar o que quiser, assunto importante ou não, sem se sentir vigiado, avaliado, julgado.
Os que vivem da/para a noite geralmente já estão acostumados com tais acontecimentos, sabem o que esperar de uma noitada e principalmente sabem do que falar. É como uma sociedade, com todas as suas camadas, inteligente e próspera. Os que têm o discernimento de avaliar detalhe por detalhe dos assuntos mais difíceis ou aqueles que não tem tal cultura, mas entendem na pele tudo o que se discute. É uma população aberta ao diálogo, algo que se perde nas horas loucas do dia ensolarado, quando todos querem e são obrigados a se comunicar rápido, a trabalhar rápido, a ser sempre mais rápido que o colega ao lado, depreciando assim as relações pessoais. Os escravos do horário comercial não se conhecem, e a madrugada, ao contrário, proporciona exatamente isso.
Resta aos amantes da madrugada uma vida paralela à normal. Por causa das horas perdidas de sono, geralmente são amantes do café e das bebidas estimulantes, além do álcool. São comumente associados a pessoas que vivem fora da lei [pelo menos a lei que consta no papel], estão acostumados a batidas policiais e chamados de 'apelidos' nada animadores, as vezes visto como vagabundos que nada melhor têm a fazer. Muito pelo contrário, olhando de perto, nesse horário encontraremos algumas das pessoas e idéias mais facinantes, um mundo [pelo menos imaginário] mais próspero e possível de funcionar do que o iluminado pelo sol e regido pelo dinheiro.
Ahh sim, o dinheiro. Necessário dia e noite, como não poderia deixar de ser. Bancos 24 horas que não funcionam depois da meia noite, luminosos alucinantes piscando pela cidade, convidando os passantes noite adentro [felizmente não há mais luminosos e propaganda na cidade de São Paulo]. Necessário, sim, mas não fundamental. Com qualquer 5 ou 10 reais, juntando moedas entre amigos e guardando apenas o necessário para voltar pra casa, pode-se divertir e encontrar por aí inspiração para conter os bocejos até o dia amanhecer, seja qual for o gosto de cada um.
O único pesar dessa vida é que a outra vida, a que costumam chamar de 'importante', é opressora e não vê com bons olhos aqueles que apreciam a noite. Uma pena, pois essa vitalidade e essas idéias que surgem na madrugada, único horário livre que os escravos podem se dedicar ao que realmente lhes interessa, que movem a sociedade-diurna-capitalista-selvagem;
Tudo o que estes notívagos gostariam, e este singelo narrador endossa, é uma sociedade que não ficasse presa ao relógio e ao céu, escuro ou claro, e sim vivesse desse céu. Parasse por alguns minutos para pensar que nós vivemos do mundo, e não o mundo vive de nós. Nós passaremos, mas o que vamos deixar?..

T. 14/09/2007

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Every Little Thing- 'Yura Yura"

Sem muita enrolação, mais uma bela música japonesa...
Enquanto eu não aprender a colocar apenas a música, vou postando os vídeos...

São duas versões, uma montagem que alguém fez, e a do encerramento do 2o filme de Inuyasha, aí a música não é completa... Espero que alguém goste!




terça-feira, 11 de setembro de 2007

Forte Vício

Vicioso. Seja qual for a ocasião, o traje, a situação. Percebe-se um alvo em potencial, apenas para testar. Fixa o olhar no alvo, de óculos escuros ou não, cabelos curtos ou compridos, com uma certa preferência para as cores escuras,  é verdade. Contando os segundos, intermináveis e ao mesmo tempo escassos... Se não retribuem, é só mais um motivo para tentar outra vez, com outro alvo.
Não se faz uma estatística do tipo [apenas aqueles que gostam de se gabar], mas sempre há um olhar correspondido. Talvez melhor que muitos esportes. Mais satisfação por um olhar e um sorriso do que o gol do próprio time, sem dúvida!
E não que isso seja motivo para se considerar um galã, longe disso. É apenas algo prazeiroso, revitalizante. No meio da multidão, alguém pensa o mesmo que você. Quem sabe, talvez, o olhar e o sorriso queiram dizer "Eu também não sou desse mundo. A gente ainda se esbarra"

Pode até ser devaneio... Que seja!
Vale a pena ser louco e viciado!

Fade-out

Take 1

Passos.
Em qualquer lugar, em qualquer ocasião.
Passos e pensamentos.
Decisões, perdas e ganhos.
Daqui pra frente nada é cem por cento.
Para chegar à fruta madura, há de se provar as que não tem gosto.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Review 'Closer'

Closer, 2004. De Mike Nichols, baseado numa peça de Patrick Marber, que assina também o roteiro. Com Julia Roberts, Jude Law, Natalie Portman e Clive Owen.

Para quem tem interesse em ver os percalços que qualquer relacionamento pode passar, independente do que a pessoa vive, se suas atitudes amorosas são corretas ou não. O trunfo do filme é mostrar que só o amor pode não bastar, e consegue fazer isso sem julgar as atitudes dos personagens, deixando isso para quem assiste. Além disso tudo, o elenco é sensacional. Não se pode deixar de ver!

Então, separei duas cenas que são aulas de cinema, a inicial e a final [quem não viu não se preocupe, não muda em nada saber esta cena].
Um exemplo de que uma bela música e um slow-motion combinam perfeitamente!



a música: Damien Rice- The Blower's Daghter

And so it is
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes...

And so it is
Just like you said it should be
We'll both forget the breeze
Most of the time
And so it is
The colder water
The blower's daughter
The pupil in denial

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes...

Did I say that I love you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?

I can't take my mind off of you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind...
My mind...my mind...
'Til I find somebody new


quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Fagulha

Substantivo


fa.gu.lha feminino

1. centelha
2. faísca




Uma centelha, algo a ser descrito, porém é apenas uma levíssima sugestão.
Uma faísca, como a que sai do isqueiro por raros segundos e desaparece como se não tivesse existido.
Fagulha, substantivo feminino. Representa uma inspiração, uma sugestão, algo pelo qual se deve buscar o melhor das palavras para descrever as idéias plantadas.
A própria fagulha tem singela beleza, rápida, não se mostra a todos. Ilumina rapidamente e torna ao seu repouso, deixando no seu alvo a admiração e o agradecimento.
Então, cabe a este alvo de uma certa bela fagulha o agradecimento, e a promessa de ser sempre alvo!

Suspiro

É aquilo que acontece quando você se desliga do que se passa ao redor e solta um ligeiro escape de respiração...
Chamaram de suspiro, que de tão calmo e sublime, virou doce.
Alguns supersticiosos dizem que suspirar é deixar a felicidade escapar, e que salvando os suspiros e colocando a mesma energia em outras tarefas, elas se realizam plenamente, e em desejos, que eles se cumprem.
Mas, quem nunca suspirou não sabe o quanto é bom!
Ali, deitado numa rede, ou encostado numa árvore, ouvindo pássaros cantar e se concentrando em não fazer nada, soltar um singelo suspiro...
Pode alguma felicidade escapar nisso?

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Fade-out

Introdução

Passos.
Podem ser silenciosos sobre um carpete
Intermináveis contra o granito de um corredor imenso
Ou abafados contra um gramado.
Mãos nos bolsos.
Ombros largos.

Vento nas costas se a grama é o cenário.
Cabelo contra o vento
Pensamentos contra o tempo.

Passos ecoados se o corredor é o seu estar.
Sapatos contra as paredes que ressonam seu andar
Conspirando com o acaso ao acreditar que fôra melhor assim.

Ou então silenciados pelo carpete.
Pés descalços se iludem julgando que o chão é de veludo
Na cabeça, monta-se o final de uma tragédia grega.

Céu, terra e mar.
Os cinco elementos, as quatro estações.
O ano novo, o aniversário, os feriados.
Os números.

Os olhos vão adiante da linha do horizonte.
Sem focalizar nada e ao mesmo tempo registrando tudo
Fade-out, focando e desfocando conforme sua vontade débil
Enxergam a tudo, e ao mesmo tempo a nada.
Contabilizam mil pensamentos, e os descartam com velocidade ainda maior.

T. 03/09/2007


-
Fade-out,
descrição em inglês;

domingo, 2 de setembro de 2007

Desmemórias- capítulo 03

Era uma ligeira discussão, começada por alguma diferença de opiniões. Ele resmungou inocentemente algumas ironias sobre a 'comédia romântica' que assistiam. Ela não gostou. Pediu para que ele não fizesse isso, como se ele não o fizesse sempre, e como se pararia de fazer.
Ele se recolheu de perto dela, desencostando e deixando a cabeceira do sofá, algo que desagradou ainda mais.
Ela levantou, perguntou-lhe por que ele precisava fazer sempre a mesma coisa [desagradável].
Ele respondeu que os hábitos do 'casal' é que deviam mudar, não apenas os dele. Começava um caminho sem volta...

- Sempre os mesmos filmes, sempre a mesma coisa, eu venho aqui, você vai no meu apê. Já caímos na rotina, não adianta. E você sabia que isso ia acontecer! -disse ele como se não houvesse o que contra-argumentar.
- Ahh, me desculpe se tudo ficou monótono pra você, senhor "quero ficar em casa"! -respondeu- Eu te chamo pro cinema, falo pra me pegar no trabalho, invento algo diferente pra cozinhar... E você me diz que a gente caiu na rotina?.. Tem certeza que quer discutir isso?
- Minha cara... Desde o começo. Desde o começo a gente ficou de acordo, não foi? Sabíamos que um namoro comum não ia levar a nada. E era muito bom, você não pode dizer o contrário... Nos vemos de vez em quando, não dá pra enjoar do outro, não tem intimidade excessiva, não tem compromisso. Você no seu canto e eu no meu, tava tudo ótimo! Isso que se chama relação aberta.
[ela tenta interromper e ele continua]
- Mas o que acontece com o tempo?.. A gente acomoda. Mesmo a gente que não tem nada. Você sai menos com as suas amigas pra se divertir, eu desisto de sair pra conhecer alguém novo porque vou ter que te ligar pedindo pra não vir pra cá... Não tem escapatória! Acabamos dormindo cada fim de semana na casa do outro como dois namorados. Pra quê continuar com isso? As pessoas cansam umas das outras, não tem nada de errado nisso e você sabe.
[lágrimas nos olhos dela começam a aparecer]
- Você é insensível cara... Como pode?
- Você sempre soube disso -diz ele, com certa surpresa e reticência- e retoma-
Desde o começo a gente não queria se apegar. Eu avisei e você concordou... Ou talvez foi o contrário...
- Não precisa repetir o que eu disse ou deixei de dizer! Claro que eu concordei, eu não sou burra, não me trate como tal! Mas você quer levar essa vida de solteiro até quando? Não tem ambição? Não vai querer uma família como a que você teve e se distanciou? Por que tudo isso? É tão egoísta assim?? -diz ela tentando esconder os olhos úmidos-
- O que eu escolhi pra mim não tem nada a ver com nós dois...
- Tem tudo a ver! -interrompe ela- Você não percebe... Acha que pode viver assim pra sempre?..
- O que tem a ver o jeito que eu vivo minha vida?.. Qual é o objetivo dessa conversa?
Se você não sabe, eu sei. Tá mais do que claro que nosso tempo passou. A gente se dá bem, claro... Mas assim não pode continuar. Melhor cada um pro seu canto... Se você achar que a gente deve se ver, me liga daqui uns dias... Não tem outra coisa pra fazer... -sentencia ele-
- Cara, eu sabia que você era egoísta, mas você é muito complexado! -ironiza ela, secando as lágrimas- Quem te fez mal hein?.. Alguém te ignorou e agora você desconta em todo mundo ?
- Não dê uma de terapeuta agora... Vai falar coisas pra se arrepender depois?.. Pois então continua sozinha, eu to indo pra casa... -e caminha para a porta, rapidamente pegando sua jaqueta e suas chaves -
- Cara, uma hora você não vai ter mais quem te queira... Resolve o teu passado antes que não sobre mais nada. -ela finalmente se cala, após deixá-lo abrir a porta-

E ele vê a conversa terminar com um gosto amargo na garganta. Perdera a discussão. Não que valesse algo, mas ela tinha razão, e isso o desagradava. Não gostava de perder.
Saiu caminhando pelos corredores e elevadores com o olhar distante, desfocado, sem fixar em coisa alguma. Não queria pensar em nada, ela tinha razão. 'Que se dane!', pensou...


-
Observação: O número de capítulos, bem como sua ordem, poderá ser alterado conforme eu escrever... No próximo capítulo eu começo a 'ordená-los' corretamente ;]

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Engenheiros do Hawaii - 'Não consigo odiar ninguém'

Outra das 9 inéditas do disco [sim, eu gosto de chamar album de disco!] novo, "Novos Horizontes Acústico".
Letra maravilhosa, música maravilhosa!



Composição: (gessinger/fonseca/ayala/aranha/pedro a.)

não quero seduzir teu coração turista
não quero te vender o meu ponto de vista
eu tive um sonho e há muito não sonhava
lembranças do futuro que a gente imaginava
nem sempre foi assim, outro mundo é possível
pode até ser o fim mas será que é inevitável?

não vá dizer que eu estou ficando louco
só por que não consigo odiar ninguém
do goleiro ao centroavante
do juiz ao presidente
eu não consigo odiar ninguém

o tempo parou feito fotografia
amarelou tudo que não se movia
o tempo passou, claro que passaria
como passam as vontades que voltam no outro dia

não vá dizer que eu estou ficando louco
só por que não consigo odiar ninguém
do goleiro ao centroavante
do juiz ao presidente
eu não consigo odiar ninguém

eu tive um sonho, o mesmo do outro dia
lembranças do futuro que a gente merecia

não vá dizer que eu estou ficando louco
só por que não consigo odiar ninguém
do zagueiro ao centroavante
do juiz ao presidente

eu não consigo odiar ninguém

domingo, 26 de agosto de 2007

Ayumi Hamasaki- Independent

http://www.fileden.com/files/2007/3/18/900608/13-ayumi_hamasaki-independent_cyber_nation_remix_mediasian.com.ar_.mp3

letra e tradução [inglês]: http://www.animelyrics.com/jpop/hamasaki/independent.htm


[uma hora eu consigo!]

Engenheiros do Hawaii - 'Quebra-cabeça'

Eterna inspiração... Engenheiros!
CD novo, recomendo pra quem gosta de nós...



Composição: Gessinger/fonseca/ayala/aranha/pedro A.

Pode ser pra sempre

Pode não ser mais
Pode ter certeza e voltar atrás
Pode ser perfeito
Fruto da imaginação
Pode ter defeito de fabricação

Tá faltando peça no quebra-cabeça
Eu não tenho pressa
O meu tempo é todo teu
É tudo que eu posso oferecer
É pouco
Mas é tudo que eu posso oferecer
É quase nada
Mas é tudo que eu posso oferecer

Pode estar no ponto
Ponto de interrogação
Pode ser encontro ou separação
Pode correr risco
Arriscado sempre é
Só não pode o medo te paralisar

Tá faltando peça no quebra-cabeça
Eu não tenho pressa
O meu tempo é todo teu
É tudo que eu posso oferecer
É pouco
Mas é tudo que eu posso oferecer
É quase nada
Mas é tudo que eu posso oferecer
É pouco
Mas é tudo que eu tenho

Tudo que eu posso oferecer

a letra
a banda

Fôra

No começo era tudo métrica, era tudo rima
Perfeccionismo na escrita, dicionário na mão
Procurando o sinônimo mais bonito, o decassílabo mais arrebatador
As duas quadras e os dois tercetos que melhor expressassem o sentimento

Antes era tudo obrigação, era tudo motivo
Forçava-se os acontecimentos para deles discorrer
Forjava-se o impossível para dele delirar
Exibia-se o projeto com o orgulho de um troféu

Fôra noutros tempos tudo muito cômodo
Perfeitamente arranjado para depois vangloriar-se
E tomar parte da criação, fazendo-se dela causa e conseqüência

Hoje porém se comemora o rompimento com a métrica
A livre escrita sobre o que paira na cabeça a qualquer hora
E a eternização de singelos momentos nunca d'antes relevados!

T. 26/08/2007

Poeira e sangue seco

É como tentar evitar o inevitável
Acreditar que irá aproveitar o tempo
Que o relógio irá andar pra trás
Que a poeira não irá se acumular
É como acreditar que o sangue não irá derramar
Que a dor não irá doer, ou que vontade irá agüentar
Como acreditar que o sangue não irá secar
E que remover não irá machucar
É pensar que o tempo não irá passar
A poeira irá cessar
E a vida não irá mudar.

Ao fim, seremos só e apenas só
Poeira e sangue seco
E um punhado de memórias jogadas ao vento

T. 26/08/2007

Do As Infinity- 'Boukensha Tachi'

Sim, música! Esse blog precisa de música! Vou postar cada vez mais... ;]
[E entre as minhas preferidas verão muita coisa japonesa.......]



letra: http://do-as-infinity.letras.terra.com.br/letras/80714/
tradução: http://do-as-infinity.letras.terra.com.br/letras/269219/

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Rádio










[testando.. aos poucos vou aperfeiçoar!]

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Suspicious Minds

Porque essa música me lembra uma época... Diferente.
Diferente, nem de todo boa nem de todo má... Algumas lembranças, o ruído do disco tocando na vitrola, viciante. Pessoas, acontecimentos, lugares... Tudo misturado.



[saudade do ruído da vitrola...]

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Zumbis

Enquanto isto está para acontecer, as pessoas que matam o trabalho na frente do pc o dia todo lêem [acento em processo de extinção] isto abaixo:


[Não destaquei a quarta notícia porque, de qualquer forma, não deixa de ser importante...]

Sentirei falta da trema e do acento circunflexo...

domingo, 19 de agosto de 2007

'Carpe Diem' ?

Como não achei a cena que eu queria deste filme, vou fazê-la eu mesmo nos mesmos moldes de 'Edukators' para aí sim postar meu review sobre o filme. Por hora, deixo esse trecho de 'Colateral', com o personagem de Tom Cruise filosofando a respeito do carpe diem... Ótimo filme.



Vincent: Look in the mirror. Paper towels, clean cab. Limo company some day. How much you got saved?
Max: That ain't any of your business.
Vincent: Someday? Someday my dream will come? One night you will wake up and discover it never happened. It's all turned around on you. It never will. Suddenly you are old. Didn't happen, and it never will, because you were never going to do it anyway. You'll push it into memory and then zone out in your barco lounger, being hypnotized by daytime TV for the rest of your life. Don't you talk to me about murder. All it ever took was a down payment on a Lincoln town car. That girl,you can't even call that girl. What the fuck are you still doing driving a cab?

Desmemórias- capítulo 02

Ele acordou com a claridade invadindo o quarto, como se gritasse para ele que já era hora de se levantar. Sabia que era sábado, mas não conseguia lembrar como terminou a noite. Olhou para o lado e se lembrou. Dormira com uma amiga, com quem saía ocasionalmente. Ambos no auge da juventude e forma física, lá pelos vinte e cinco anos. Ele morava sozinho há pouco mais de 1 ano, e nesse tempo aprendera a se virar. Mas não era só pela companhia que saía com a amiga. Vez ou outra, quando ele não tinha muito o que fazer no fim de semana, além do trabalho que sempre restava, ele a chamava, pois era inevitável que ela viesse e não visse algo que faltava arrumar ou limpar em seu apartamento. Era cômodo, ela sabia, ele sabia, mas não falavam a respeito. Era mecânico.
Se por um lado a falta de sentimento de ambos era motivo de desconfiança entre seus amigos, ele dava de ombros. Sabia que, ainda mais quando tinha que se virar por conta própria, um relacionamento se divida em muitos outros fatores do que simplesmente os sentimentos. Mas, para todos os efeitos, eles não estavam namorando. Era algo para apenas quando não tivessem melhor companhia, se davam bem, riam juntos assistindo a um filme ou dançando num clube e não passava disso.
E ele não deixaria passar. A comodidade era confortante. O trabalho exaustivo de segunda a sexta chegava a deixá-lo sem vontade de aproveitar o fim de semana, portanto ter alguém por algumas horas ao seu lado, e sem cobranças, era algo perfeito para ele.
Quando juntos, não conversavam muito a respeito de seus passados afetivos. Até se desinteressavam sobre o assunto, tanto que não sabiam quase nada a respeito um do outro. Acordo feito ainda quando eram simples amigos, a custo de algumas bebedeiras juntos e um passo dado por ele, aproveitando-se da desculpa do álcool para dar o bote. E a falta de conhecimento sobre o outro é que mantinha o barco navegando, pois trazia a curiosidade de perguntar algo como pretexto para se verem, e quando se encontravam deixavam de lado esses assuntos tediosos para apenas se divertir, em todos os sentidos.

Ele fez o café e tomou sozinho, não queria e nem podia acordá-la, pois seu mal-humor matinal era ainda mais latente quando combinado com bebida na noite anterior...
Deixou a louça automaticamente na pia para que ela lavasse, não por egoísmo, mas por ser um gesto corriqueiro. Foi varrer e tirar pó de alguma coisa, ligando baixo o som na saleta, pegando mais um pouco de café e combinando a tentativa de limpeza com seu hábito de pegar a câmera fotográfica e procurar pela janela algo que lhe interessasse captar.
O som do obturador funcionava como seus olhos, que captavam vontades e sentimentos dos outros como poucas pessoas conseguiam. E, claro, volta e meia os usava a seu favor, como um vendedor persuasivo.
O relógio da saleta marcava 11:30. Queria ter dormido mais, porém não se lembrava a que horas de fato ele teria deitado. Pensou olhando para baixo na pequena sacada que ela teria dirigido depois de beber mais uma vez, mesmo com sua repreensão. Ele não tinha carro, ainda não pensava em ter um, e sempre que saíam deixava a tarefa pra ela, que ainda não tinha aprendido seu limite de tolerância ao álcool. Já fizera muito em largar o cigarro a seu pedido, pois detestava o cheiro que ficava no apartamento. Pesava os prós e os contras dessa 'relação', e antes mesmo de chegar a uma conclusão esquecia do assunto e resmungava sem perceber algumas palavras que sentenciavam os pensamentos.

Ao ouvi-la levantando e indo ao banheiro, aumentou um pouco o som, esquentou um pouco mais o café e encontrou-a ali mesmo no corredor. Com um beijo e uma leve prensa na parede lhe disse 'boa tarde, bela adormecida'. Ela o beliscou, retribuindo o beijo, e lhe respondeu que tentava criar coragem para sair da cama. Seguiu para a cozinha e ele deu um leve tapa no bumbum, só para ouvir de resposta o 'danado!' que ela soltava com um misto de voz rouca e um pouco de ressaca, uma combinação viciante.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Desmemórias- capítulo 20 e uns...

Apartamento. Os sofás dispostos em 'L', cada um no seu. Era frio, mas fazia sol, por isso a janela impedia o ar mas deixava a luz entrar.
Alguém na cozinha, a mãe dela lavando a louça do café, talvez pós-almoço. Talvez a louça que ele se dispôs a lavar mas não o deixaram.
A tv dizendo alguma coisa com a qual ele não se importava. Tinha os pensamentos voltados para uma única razão, concentrados na direção do seu olhar. Olhava ela, levemente encostada no sofá, puxando o cobertor até os ombros. Deixava cair o cabelo, liso e castanho, um pouco para frente.
Ele continuava a olhá-la e dizer algumas coisas rápidas, até que ela lhe respondeu com um olhar fundo, avaliador e ao mesmo tempo grato. Grata talvez por ele apenas olhá-la daquela forma. Certo era que seu brilho era transcendente a tudo.
Então chega o pai dela, seu 'talvez futuro sogro', e extasiado como estava pelo olhar dela, não ouviu seus passos, sendo pego de surpresa.
Comentam algo um com o outro, ele puxa o cobertor até os joelhos, esticando os pés sobre o tapete, e agora passa a olhar para ela com alguns intervalos, mas sem perder sua fixação.

Alva

Ela é lívida como um sorriso que arrebata
Ela é alva como a neve, macia como o algodão
Pintada como respingos de aquarela num quadro
Ela dorme como repousam os filhotes junto à mãe
Ela anda como se os quadris cantassem uma ópera
Fala como se a voz fosse uma sinfonia à luz do dia
Ela tateia como se não tivesse nenhum outro sentido
Ela respira como se o ar existisse para contemplá-la
E olha como se armas ou amores não fossem capazes de se equiparar a seu olhar.

T. 17/08/2007

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Desmemórias- prólogo

Um caminho de pedras, talvez mal iluminado. As duas mãos nos bolsos da calça, a jaqueta fechada. Tentando proteger da garoa cortante, mas não o consegue. A pé, sem mp3 player no ouvido. Na cabeça, filmes de acontecimentos de outrora e outros que nunca existiram.

Das pedras para a calçada, ao lado do canteiro de flores que se abrem no outono. Poucas pessoas por ali, bancos de praça, apenas alguns casais. Uma música calma toca bem distante. Os que ali estão acompanhados não se importam com o vento e a chuva.

Os filmes se acentuam na cabeça. O destino está mais próximo, e isso é motivo de mais apreensão do que felicidade. Parece que os dias estão contados, ele quer tentar uma sobrevida. Mãos fora do bolso sacam o celular, avisando que está para chegar. Leve discussão, ele logo desliga e aperta o passo. Tenta não levar as mãos aos olhos porque não quer lacrimejá-los mais.

Se pergunta se não faltou dizer algo, até ali. Os ônibus cortam-lhe os pensamentos passando feito flechas na avenida. Ele olha as horas. Largou mais uma noite de estudos para ir até lá. Tem que acordar cedo. Quer sumir. Com ela.

Ele interrompe o jantar. Consegue cinco minutos para tentar se explicar. Não parece adiantar, ela está irredutível. Ele já não sabe mais perguntar nada além de 'por que?'
Ela lhe diz que tem que ser assim.
Ele se dá por vencido, forçado pelas circunstâncias. Vai embora pelo mesmo caminho, agora olhando apenas para baixo. Não sabe mais no que pensar. Só conta as horas para tentar outra chance de vê-la, na desculpa de apenas conversar...

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Urbanos pero no mucho inteligentes

Padrões de beleza questionáveis. Amizades eufóricas como uma noite na balada mais agitada e barulhenta. Dinheiro que não é problema. Casais se formando às dúzias. Egocentria, egoísmo, falsas sensações de felicidade, segurança, paixonite aguda e até mesmo amizade. Tudo isso me dá medo. E pena, muita pena.

Pintam os quadros de si próprios como fossem Monet ou Van Gogh. Se colocam inatingíveis, nas alturas, num padrão de vida ilusório e consumista.
Que nojo... Asco de pessoas com as quais eu convivi até bem pouco tempo.

Transformam-se em fantoches mais preocupados com o que o dinheiro pode trazer.
Hoje durmo com repulsa, mas um dia toda essa 'segurança' cairá por terra.
E nesse dia serei eu que darei risadas, essas de fato felizes, por provar que os castelos de areia são frágeis e a beleza é só torpor. Um plano impostor...

Review 'The Edukators'

Die Fetten Jahre sind vorbei, 2004. De Hans Weingartner, diretor de apenas 36 anos.
Conta ainda no elenco com o casal Daniel Brühl [Adeus, Lênin!] e Julia Jentsch [Uma mulher contra Hitler- Os últimos dias de Sophie Scholl]

Daqueles filmes que não perdem tempo dizendo que tudo está errado, que tudo é uma merda, que o Sistema Capitalista é opressor e coisas do tipo, sem apresentar conclusão ou debate sobre o tema.
Não, 'Edukators' vai muito além, ele só apresenta seus argumentos -muito verdadeiros- e deixa para quem o assiste a reflexão ou o sentimento de mudança, se este o quiser.

É um filme brilhante, para assistir sempre e lembrar de que nós mesmos podemos perder o foco ao longo do tempo. Passamos a nos acomodar com as coisas que o dinheiro pode trazer, e passamos a querer mais dinheiro porque ele é sinônimo de conforto e felicidade.
Mas não é simples assim.

Enfim, aqueles que se sentirem ofendidos com os trechos do filme que postarei a seguir, podem ficar tranqüilos nas suas poltronas comendo seus fast-foods e assistindo a tv letargicamente. Eu não vou criticá-los, mesmo porque nem todos têm as células revolucionárias bem desenvolvidas dentro de si. Já eu, parafraseando o personagem Jan, digo que ultimamente minhas células revolucionárias estão cada vez mais intensas, e que muito em breve eu serei um misto de 'Edukator' e membro do Clube da Luta. E eu levarei adiante o meu próprio 'Projeto Caos'.

Nada farei para chamar a atenção... Com o passar dos tempos vamos adquirindo mais noção sobre o nosso papel na sociedade. O meu vai ser chamar a atenção, não hoje, mas amanhã.
E todos nós podemos ser lembrados. Basta botar nossas células revolucionárias para se mexer.

E aconselho os seguintes links para complementar: http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/educadores/educadores.htm

http://www.atalantafilmes.pt/2005/osedukadores/entrev_hans.htm [extraído de http://www.atalantafilmes.pt/2005/osedukadores/osedukadores.htm ]


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[Só peço desculpas pela qualidade do vídeo. Gravei assim porque não cabia tudo na câmera e eu só queria mesmo anotar esse trecho, que não achei em nenhum lugar. Caso não dê pra ver vá logo alugar o filme!]

Transcrição: Jule: Quantas horas você trabalha por dia?

Hardenberg: Cerca de 13 ou 14 horas.

Jule: E o que faz com tanto dinheiro?
Você coleciona coisas. Coisas grandes e caras. Muitos carros, uma mansão, o seu iate... Coisas que mostram que é um macho alfa.
Não vejo outro motivo. Nem tem tempo para usufruir do seu iate. A pergunta é: por que sempre quer mais?

Hardenberg: Vivemos em uma democracia. Não preciso justificar coisas pelas quais eu paguei.

Jan: Errado, vivemos em uma ditadura capitalista. Você roubou tudo o que possui.

Hardenberg: Posso me dar a certos luxos porque sempre trabalhei duro. Porque tive as idéias certas nas horas certas.
E, além disso, eu não sou o único...

Jule: Besteira!

Hardenberg: Muitos têm essa chance, eles só não aproveitam.

Jule: Então você é um batalhador...
Na Ásia também há pessoas que trabalham 14 horas por dia, mas elas não têm mansões e só recebem 30 euros por mês. Acredito que elas também tenham idéias fantásticas mas não têm dinheiro para ir até a cidade vizinha...

Hardenberg: Sinto muito por eu não ter nascido na Ásia.

Jule: Pode ser, mas poderia ajudar a melhorar a vida por lá. Os países ricos poderiam perdoar as dívidas, são apenas 0,01% do PIB, que poderiam sumir!

Hardenberg: Porque a Economia mundial entraria em colapso.

Jule: Porque querem que continuem pobres!
É o único motivo, assim podem controlá-los. Forçá-los a vender os produtos por preços mínimos.

Hardenberg: O que você entende disso?

Jan: Pelo mesmo motivo, não perdoou a dívida dela...

Hardenberg: Isso é absurdo...

Jan: Não, é a regra básica do sistema: exaurir as forças das pessoas até o limite para que elas não pensem em reagir.

Hardenberg: Isso não é verdade. É claro que muitas dessas coisas podem ser melhoradas. Proteção ambiental, aumentar os preços dos produtores, mas o sistema nunca vai mudar.

Jan: E por que não?

Hardenberg: Por que?..

Jan: É, por que?

Hardenberg: Porque é da natureza humana querer superar o outro. Porque todo grupo elege um líder depois de algum tempo.
E a maioria só é feliz quando pode comprar algo novo.

Jan: Feliz? Acha que as pessoas são felizes Hardenberg?
Dê uma olhada! Saia do carro e olhe as ruas! Alguém parece feliz ou parecem animais acuados?
Olhe nas salas de estar, todos apáticos grudados na TV. Ouvindo zumbis falando sobre a felicidade perdida.
Dirija até a cidade. Verá toda a imundície e a superpopulação. O povo nas lojas, parecem robôs subindo e descendo as escadas rolantes. Todos são desconhecidos e todos acham que estão perto da felicidade, mas ela é inalcançável porque a roubaram deles.
É assim que funciona, e você sabe disso, Hardenberg.

Mas eu tenho uma novidade, Sr. Executivo: a máquina esquentou demais. Somos os precursores, mas a sua era vai acabar logo. Se acomodaram com a sua tecnologia, mas os outros estão com ódio. O ódio de crianças na favela que assistem filmes americanos. E isso é só um lado, o que acontece aqui?
As doenças mentais estão aumentando, mais assasinos em série. Almas perturbadas, violência gratuita. Não vão conseguir sedá-los com a TV e compras para sempre. E os antidepressivos também vão parar de funcionar. As pessoas estão de saco cheio da droga do sistema...

Hardenberg: Eu admito que esteja certo sobre algumas coisas mas pegou o bode expiatório errado. Eu posso ter entrado no jogo, mas não o inventei.

Peter: O inventor da arma não importa, importa quem puxa o gatilho.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

O super-HD

Esta lá no sub-consciente, como um hd que perdeu dados depois de uma formatação, mas ainda os têm gravados porque não é possível apagar algo em definitivo. Memórias quase secretas, que acham sua brecha quando o corpo repousa. Saem, passam seu recado e retornam pro hd. E nos deixa o ponto de interrogação na testa quando acordamos. Por que aquilo apareceu? Por que sonhei isso?

É incrível o fato de conhecer cada vez mais sobre tudo. Incrível, e ainda um pouco assustador. Claro, porque dar um passo no escuro é um tanto assustador.
Então, eventualmente, os dados e memórias do hd ainda aparecem para atormentar, ou para simplesmente avisarem 'eu existo, você não vai conseguir me deletar, aceite'. E temos que aceitar, ou então os dados se rebelam, passam a fazer com que você sonhe coisas ilícitas, se drogue nos seus próprios sonhos, cometa delitos e coisas do tipo. É culpa do id, maldito!

Melhor não falar mal dele...

Mas então, aquelas coisas que você fala que esqueceu, que superou, que tocou em frente. Claro, pode muito ser bem verdade, mas elas estão ali, e não sairão. E quanto mais se empurra-as pra fora, mais pra fundo elas vão, aí ferrou.
Em alguns casos, pessoas associam músicas a pessoas. Outras pessoas associam épocas a pessoas. E algumas outras pessoas associam cheiros, cores e outros tipos de lembranças e sensações a outras pessoas, e tudo isso se manifesta naqueles sonhos 'mais bizarros' que temos, que todos têm!

No caso deste singelo narrador, a cor azul o persegue!
Por que acham que tenho mil e um motivos pra gostar de verde?...

terça-feira, 31 de julho de 2007

Review 'Clube da Luta'

Fight Club, 1999. De David Fincher [responsável por, entre outros filmes, Zodíaco, O Quarto do Pânico e Seven].

O filme é uma grata 'viagem' do início ao fim. Uma viagem que nos deixa a vontade de fazer parte dele, de ser também uma pessoa subversiva, que leva seu descontentamento e sua fúria contra o 'sistema' aos limites e consegue fazer parte de algo para se tornar menos letárgico.

Atuação perfeita do 'trio principal' do filme, por assim dizer, Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bonham Carter. Entre aspas porque o filme vai muito além dos atores, assim como Trainspotting fizera antes, ele mostra que o seu interior é acomodado e permissivo. E planta uma idéia de revolução, que depende de cada hospedeiro para crescer ou não. Para ter entre os favoritos, sem dúvida!



Difícil escolher um trecho do filme, mas este é um bom deles. Abaixo, a transcrição:

"Man, I see in fight club the strongest and smartest men who've ever lived. I see all this potential, and I see squandering. God damn it, an entire generation pumping gas, waiting tables; slaves with white collars. Advertising has us chasing cars and clothes, working jobs we hate so we can buy shit we don't need. We're the middle children of history, man. No purpose or place. We have no Great War. No Great Depression. Our Great War's a spiritual war... our Great Depression is our lives. We've all been raised on television to believe that one day we'd all be millionaires, and movie gods, and rock stars. But we won't. And we're slowly learning that fact. And we're very, very pissed off."

Tributo: café



Ao ler 1984, obra magnífica de George Orwell, muitas assombrações podem passar pela nossa mente. Entre tantas outras, uma específica me toma os pensamentos no momento. Claro, num mundo totalitário ao extremo onde apenas o Governo controla tudo o que acontece, é natural que não só o café, como qualquer alimento seja racionado e manipulado para ser servido à população como uma vasta lembrança do que fora este produto, mantendo apenas para poucos privilegiados o verdadeiro produto, o verdadeiro prazer.
A comparação com o livro para por aqui, outra hora haverá um comentário sobre ele.
Parando pra pensar, aqueles que gostam do café, evidentemente, é assombroso imaginar o líquido sem o prazer de degustá-lo.
Quente, frio, com sorvete, acompanhado ou não, com música ou não, incrementado ou não. É um prazer somente conhecido para aqueles que o apreciam, naturalmente. Quem não o gosta nunca saberá o prazer que é sentir as papilas saboreando o líquido, amargo ou não, e poder pensar apenas nisso.
Pode ser só invenção de um pseudo-escritor blasé e metido a cult, mas o café é algo inspirador. Ao meu gosto, puro, forte e com pouco açúcar. E no frio extremo, com canela e alguma bebida, conhaque de preferência. A mente viaja, imaginando som de piano, um bar com vista para a rua, pessoas conversando, boa companhia ao lado e muito café. Risadas, boas conversas. Um desvio da rotina, talvez.
Um líquido é capaz disso? Talvez sim, talvez não. O certo é que é um complemento, e um belo complemento. Faz querer viver melhor, aquece e abranda. Desde lugares gelados até os calorosos demais, será sempre boa pedida. Café é vida noir, boêmia e cult ao mesmo tempo.
[E pode-se tomar fazendo caretas sem ser mal-interpretado!]

Palavreado

Gosto da palavra “fornida”. É uma palavra que diz tudo o que quer dizer. Se você lê que uma mulher é “bem fornida”, sabe exatamente como ela é. Não gorda mas cheia, roliça, carnuda. E quente. Talvez seja a semelhança com “forno”. Talvez seja apenas o tipo de mente que eu tenho.

Não posso ver a palavra “lascívia” sem pensar numa mulher, não fornida mas magra e comprida. Lascívia, imperatriz de Cântaro, filha de Pundonor. Imagino-a atraindo todos os jovens do reino para a cama real, decapitando os incapazes pelo fracasso e os capazes pela ousadia.

Um dia chega a Cântaro um jovem trovador, Lipídio de Albornoz. Ele cruza a Ponte de Safena e entra na cidade montado no seu cavalo Escarcéu. Avista uma mulher vestindo uma bandalheira preta que lhe lança um olhar cheio de betume e cabriolé. Segue-a através dos becos de Cântaro até um sumário - uma espécie de jardim enclausurado -, onde ela deixa cair a bandalheira. É Lascívia. Ela sobe por um escrutínio, pequena escada estreita, e desaparece por uma porciúncula. Lipídio a segue. Vê-se num longo conluio que leva a uma prótese entreaberta. Ele entra. Lascívia está sentada num trunfo em frente ao seu pinochet, penteando-se. Lipídio, que sempre carrega consigo um fanfarrão (instrumento primitivo de sete cordas), começa a cantar uma balada. Lascívia bate palmas e chama:
- Cisterna! Vanglória!

São suas escravas que vêm prepará-la para os ritos do amor. Lipídio desfaz-se de suas roupas - o sátrapa, o lúmpen, os dois fátuos - até ficar só de reles. Dirige-se para a cama cantando uma antiga minarete. Lascívia diz:
- Cala-te, sândalo. Quero sentir o seu vespúcio junto ao meu passe-partout.

Atrás de uma cortina, Muxoxo, o algoz, prepara seu longo cadastro para cortar a cabeça do trovador.

A história só não acaba mal porque o cavalo de Lipídio, Escarcéu, espia pela janela na hora em que Muxoxo vai decapitar seu dono, no momento entregue aos sassafrás, e dá o alarme. Lipídio pula da cama, veste seu reles rapidamente e sai pela janela, onde Escarcéu o espera.

Lascívia manda levantarem a Ponte de Safena, mas tarde demais. Lipídio e Escarcéu já galopam por motins e valiums, longe da vingança de Lascívia.


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[Trecho extraído da crônica 'Palavreado', de Luis Fernando Veríssimo.]


comentário: crônica sensacional, estava procurando há tempos!

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Acerca do tempo

Pra quem cresceu com a chamada Síndrome do Patinho Feio, é uma virada e tanto se descobrir no lado oposto. Nem Cisne, nem Patinho Feio. O processo, é verdade, é longo e caminha junto com o amadurecimento [se bem que este acho que nunca cessa], e pelo menos no caso desse humilde narrador, não foi forçado.
Fluiu com os anos, pós-colegial, faculdade, viagens da faculdade, estágio, grupos sociais, primeiro emprego, etc... E com as fases muitas mudanças de visual e de caráter. Forçadas ou não, mudanças são mudanças e são sempre para melhor. Caso contrário, era só voltar até a anterior, como se retorna um jogo salvo após morrer, e fazer o certo desta vez. E assim fui levando os meses.

Pois quando se pára pra pensar, não é que agora estou no olho do furacão?

Claro que não era só coisa da minha cabeça, coisas de adolescente. Era um todo, acho que todos passam um dia pela fase de 'rejeição', tentam ingressar em certos grupos sociais para ter aceitação, e assim conseguir um reconhecimento. No meu caso tudo foi mais difícil, sem fazer drama de Cinderela no porão, por motivos que não vou dizer agora.
Mas sempre havia mais expectativas sobre mim do que eu mesmo podia captar [e olha que inteligência é algo que se desenvolve plenamente apenas depois do colegial, tenho certeza disso!]

Pois então, depois de conseguir a aceitação o próximo passo seria o mais difícil. O de ser querido dentro do grupo. Ser aceito é uma coisa, qualquer um pode ser aceito em qualquer grupo, desde que saiba o que está fazendo e se sujeite a isso. Ser querido não, é algo mais profundo, que envolve X questões muito mais profundas e difíceis de se debater!
Já que a tal Síndrome do Patinho Feio era algo que sempre perseguia, não era nada fácil ser querido por um grupo, por alguém. E de tanto martelar isso acaba entrando na cabeça. E cresci, então, admirando ideais românticos da turma de Álvares de Azevedo, com seus ultra-romantismos exagerados [não é redundância do texto, eles eram demasiado exagerados mesmo nos seus delírios românticos] ou então das Novelas de Cavalaria, em que os heróis cavaleiros sempre tinham uma milady Guinevere para salvar.

Portanto, além das síndromes e das idéias 'embutidas' pelos comentários alheios, pesava também o fato de crescer acreditando em algo que de fato não existe, a não ser em delírios de poetas bêbados que não gostavam das suas aulas de Direito...
Realmente muita coisa para a pobre mente de um jovem confuso e magricelo. Ainda bem que essa era a fase de se perder por aí até descobrir de fato quem se é. E isso ainda demorou a ocorrer.

Pois bem, as únicas coisas certas na vida são que o tempo passa e a morte chega. E o tempo passou, naturalmente, oferecendo experiências completamente diferentes das vividas antes da 'maioridade', digamos assim. Foi a época de conhecer o máximo possível no menor tempo possível. E, de fato, deve ser por isso que a maioria dos jovens sente falta dessa exata fase assim que ela é superada.
E foi superada. Começaram a aparecer responsabilidades, com elas a esperança de ingressar num mundo novo de pessoas flertando sem se importar em serem mal-entendidas, trocas de números de celular e promessas de romance surgindo. Nesta fase, então, adentra-se à 'pós-adolescência', a vida pré-adulta. E para algumas pessoas o hiato entre uma fase e outra dura bastante tempo...

Já nesta fase as síndromes parecem não importar tanto. Afinal, quem não tenta 'não pontua', como se diz nessa idade. Experiências negativas aqui e ali, sofrimento causado e sofrido, aprende-se bastante. Infelizmente esse é o único meio.
A Síndrome do Patinho Feio começa a se transformar, internamente, na do Cisne que fora pato e que jamais quer voltar a sê-lo. Pois então ele investe em si próprio, no caso deste narrador, mais em auto-propaganda propriamente dita, e pensa que agora sim está pronto, que aprendeu de tudo.

Mas ora, quem acha que aprendeu de tudo é porque não viu nada ainda! E então seguem mais desastres, que impõem lições a serem aprendidas. O jeito é aprender para não repetir.
E o cisne que fora pato vai fazendo uso de suas asas. Adquire novos conhecimentos, agora não só em vivência como também em cultura. Deve ser normal da idade ou do amadurecimento fugir do comum para buscar o prazer em pequenas coisas. E aquilo que até 3 ou 4 anos antes era diversão agora se traduz em martírio! Por isso, então, jamais amaldiçoe algo, pode virar-se para você quando menos se espera.

Agora o cisne é pesado demais para voar, e suas responsabilidades pesam em suas costas, não lhe permitindo vôos longos. Já não era, por dentro, um cisne, muito menos um pato. Agora então, um pássaro?
Sim, aprendera a se desprender do peso, manipulando-o. Se as responsabilidades são pesadas demais, dá-se total atenção a elas, abdicando do resto. Se não, pode-se exercer o tempo vago para refletir e reavaliar os conceitos acerca de suas 'ex-síndromes'.
E o que vosso narrador fizera?

Bem, não mais pato, nem cisne, mas pássaro. E agora sem síndromes. Nada de achar que tudo antes fora inválido ou inverdade. Tudo fora um caminho para que hoje o pássaro se tornasse admirado, querido. De fato, conseguiu, em algumas doses.
Mas agora esse pássaro aprendeu a voar, tomou gosto pela coisa, e já não pertence a mais ninguém, apenas se pertence. E justamente agora que poderia tomar proveito dos benefícios que ser um querido pássaro proporcionam é que ele quer voar, ser livre, não estar amarrado nem [pelamor!] engaiolado. O pássaro agora quer apenas voar tranquilo e só, consciente dos seus erros e percalços e sabendo que é até cruel ignorar a natureza, que lhe ordena fazer o que é normal, procurar membros femininos da sua espécie.

Este pássaro aprendeu a se soltar das síndromes e dos rótulos, e quer apenas voar.


[Nota do E.]: Este texto explica o novo título do blog... Inteligente sim, pseudo-cult e esnobe talvez. Um tanto blasé... Pero no mucho!

domingo, 29 de julho de 2007

Mais 'Trainspotting'

Foi necessário, essa cena é brilhante... E podem confiar em mim, a trilha sonora do filme é fantástica, album duplo com direito a David Bowie, Lou Reed [que está nesse trecho abaixo], Iggy Pop, New Order... Enfim, o melhor dos 80's e 90's, como bem retrata o filme.

E pra amanhã prometo posts novos. Sabem como é, o frio...





[o personagem 'Renton', de Ewan McGregor tem uma overdose de heroína]

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Blasé?

Como sempre estou mudando, cambiando, algumas coisas... Uma delas é o título do blog. Era necessário. Francês é uma língua que eu adoro, naturalmente. Línguas latinas são lindas, tem boa sonoridade e até mesmo suas complexidades são interessantes. Só que o título anterior, tenho que admitir, estava muito blasé! E aliás, blasé é algo que me define... Não é a toa que nasci no dia da Queda da Bastilha, sou meio francês sim... Hahahah
Nariz um pouco empinado [sem ter motivo], com aversão a muitas coisas, isolado... Enfim, agora está mais correto. Pero no mucho!

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Textos antigos: 'sem nome'

Time goes by, slowly
How slowly?
Like a big city
Like those people you'll never know
And you only care about in the news
But how many asks the same questions I do?
I believe that those sky can change
But what it mented, never will be forgotten
Could that orange thing far away from us
-but yet so close-
Change our lives?
Or that was supposed to happen anyway?
A little things that I can look at it now
And they mean much more than anything that went wrong

Now I can only remember the good things
Am I wrong or am I old?
Or still... Am I missing being missed?
I couldn't, and I wouldn't ask for anyone else
Like i won't ask for you again

Time goes by
And ours was that one
If I'm right then
It's not any wrong to feel that kind of feelings
It's only good thoughts about good times
And like I've never knew, but now I should say
Best time's are always now

If, and only if
We ever meet again, no matter when
I'll just want it
To look. Being looked
And then look again...
I'll be happy for everything back then


-
[escrito em Inglês pra dificultar o entendimento...]

terça-feira, 17 de julho de 2007

Era folha de papel...

Era inverno, era o presente
Era o futuro, era vislumbre
Eram os anos, eram os planos
Era o momento, era o acontecimento
Era o começo, era o fim
Era papel rasgado, era o papel picado
Era juntar os cacos, era colar as partes
Era apagar os traços, era reescrever os fatos
Era pegar uma folha nova
Era fazer do papel uma vida nova
Eram memórias, pra sempre serão.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Felicidade Hollywoodiana

É aquele tipo de felicidade nonsense, mas nonsense no sentido de não haver razão para tal. É o mocinho cantando e dançando na chuva porque a mocinha lhe deu um beijo de boa noite... É a formatura dos adolescentes achando que as coisas boas da vida apenas começaram [quando na verdade dali pra frente a coisa só tende a engrossar!]. É o torcedor de tal time pulando feito louco e pegando cervejas na geladeira pra comemorar a vitória do seu time, como se todo jogo fosse a final!

Enfim, é toda e qualquer felicidade desacompanhada de sentimento de culpa por estar feliz. Ou seja, a felicidade plena. [Deve ser por isso que foi inventada por ianques...]
Enquanto nos filmes europeus os personagens são andarilhos confusos, que têm em seus raros motivos para sorrir lembranças de coisas simples, a felicidade hollywoodiana é aquela de ganhar na lottery, atravessar de costa a costa num perfeito roadmovie por causa de uma garota [ou rapaz], com muitas confusões no caminho. Ou seja, a felicidade provinda de atos 'impossíveis', numa tentativa de lotar cinemas com uma bela história repleta de sentimentos mascarada pela 'vontade de inspirar as pessoas'.

Trocando em miúdos, particularmente prefiro a felicidade européia de ser. Primeiro porque tem muita 'latinidade' no jeito dos europeus demonstrarem sentimentos através do cinema. Segundo porque eles acertam nas coisas simples, e não nos efeitos especiais e atores consagrados...
E terceiro porque felicidade hollywoodiana sempre existiu e sempre existirá apenas em Hollywood.
[Graças a Deus...]


N.E.: agradecimentos à tal pessoa que me acendeu essa fagulha....