domingo, 14 de outubro de 2007

a.m.

Os pássaros cantam sem se importar com a manhã cinza
A maioria dorme, num horário em que não há nada mais que fazer
Na cozinha o café pingando do bule parece um conta-gotas
Ou uma bolsa de sangue das que se usam ao doá-lo
A manhã é demasiado silenciosa, contrariando os que gostam do movimento da noite
Mas é tranqüila e reflexiva, assim como o leve sereno que cai
Estranho num dia de domingo.

O mal estar matutino se agrava com o café deslizando corpo adentro
Mal auto-provocado, de risco conhecido
Vício programado.

Ao contrário do dia que se levanta lento, os planos são de movimento
Uma certa coragem em se desvencilhar da preguiça
Ou talvez curiosidade em analisar quantos farão o mesmo
O coração é leve, talvez como nunca em uma manhã como essa
Ou talvez envelhecido, como a bebida fermentando dentro de um tonel.

É uma época certamente de muitos talvez
Ao passo que outrora fôra talvez de muitas certezas
Ambos se reciclam, se fundem, se transmutam
E na próxima época já não se sabe mais
E nem quer saber. Aproveita.

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