domingo, 30 de março de 2008

Rascunho

[ou rabiscos...]


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Como seria a forma certa de começar?
Poderia eu falar de seu olhar
Ou da sua destacada brancura
Ou então de sua doçura, que tão rápido a alguém faz conquistar

Seria um desfile de adjetivos
Que até, talvez, se tornariam repetitivos
Pois não seria a primeira musa
Também não seria você homenageada pela primeira vez

Escrevo, então, por este bloco de recados apertado
Letras tortas de uma caligrafia destreinada
Iluminada por uma luz apenas, e distante da vista
Sentado à cama, pois é sempre a esta hora
[para não falar das outras]
Que me tomas os pensamentos
Me roubas o sono
E me deixa os sonhos

Só me resta falar, então
Sobre os sonhos que me aparecem -no sono ou não-
Farei portanto um apanhado deles

Da pele branca levemente fria -mas viva-
Juntamente com seus olhos e coração, que aquecem
Se tornando tensas a um toque meu, muito ansiado
E ganhas rubor e calor, o demonstrando com seu sorriso

E sinto comigo que o sonho, de tão bom
Está para acabar
Adormeço, ou então o sol vem me acordar
Até a noite seguinte -e volta e meia durante o dia-
Tornas a voltar...

sábado, 29 de março de 2008

Rascunho de 'Rascunho'






Apenas uma consideração: escrevi nessas pequenas folhas o esboço. Postarei a seguir o texto 'a limpo'

[minha letra não é assim tão feia, mas o tamanho do bloco não ajudou!]

segunda-feira, 10 de março de 2008

Desmemórias- capítulo 05

Um pequeno grupo, não mais que 5 pessoas [entre homens e mulheres] caminhavam na rua movimentada no começo da noite, por volta das 19 horas. Entre risadas e goles de bebida que os apressados compraram antes mesmo de chegar ao barzinho, o programa daquela noite, um casal se destacava. Não apenas por ser o único casal, mas de certa forma cativavam aos outros. Estavam todos animados, ansiosos por uma noite que de certa forma era até simples: apenas uma reunião num videokê, com direito a tomar todas sem se preocupar pois ninguém teria que dirigir [mas teriam sim que poder andar para voltarem todos acordados até o destino de cada um].
Inexplicavelmente conseguiam fazer piada de tudo, das luzes da cidade efervescente, da cor do céu, da falta de anúncios publicitários. As risadas até então eram o som da noite.

Som esse que mudou no barzinho: pegaram uma mesa, continuaram a beber, e conversar, e rirem. Um ou outro se aventurou a cantar, e evidentemente, arrancava risos de seus companheiros.
O casal não destoava dos outros, pelo contrário, pareciam ser o motivo pelo qual o grupo estava lá, ainda que sem estar completo, o que de fato era difícil.
Os dois conversavam, riam juntos e curtiam juntos a noite. Arriscaram também um dueto e para surpresa de todos se saíram bem, arrancando aplausos.
Adentrando a madrugada, todos já devidamente quase-alcoolizados, as risadas eram mais freqüentes e mais fáceis. O grupo já dispersava com mais facilidade, um ia tentar a sorte com a garota de outra mesa, outro quase se perpetuava no microfone. O casal já mais leve, decidiu levantar, procurar um canto mais tranqüilo, o que era natural.
Mais uma meia hora depois e eles retornam. Não fizeram nada indevido, pois o lugar era pequeno e movimentado, mas conseguiram um pouco mais de atenção apenas para si próprios.
Todos já começavam a concordar que o caminho de volta era longo e seria a hora de irem, mesmo porque ainda sobrariam algumas garrafas para abastecer o viagem...

O casal andava, como todos os outros, um pouco cambaleante. Todos riam, numa freqüência ainda maior do que no começo e do meio da noite. As piadas e estórias mais interessantes e cômicas eram contadas agora. Estava lá um grupo sem medo de enfrentar as ruas vazias, a desconfiança alheia e os julgamentos de quem os via. As caminhadas de ida e volta eram apenas um pretexto para todos se encontrarem, algo que semanalmente já era muito difícil.
Discutiam teorias e desfilavam soluções. O casal falava, discordavam de si para depois concordarem em tudo.
Estava, naquele pequeno grupo, tudo de bom que se podia imaginar de relacionamento entre as pessoas.

E ele, sentado na prancha pensando em tudo e ao mesmo tempo em nada, deixava o olhar no horizonte. Por que no dia seguinte à briga ele lembrara de coisas do passado, cinco anos antes?
Se convenceu de que pensou demais o dia todo, e ainda tinha a noite que se aproximava, e o domingo de manhã para resolver o que fazer.
Saiu do mar carregando num braço a prancha, fincou-a na areia e se secou. Olhou o celular apenas para averiguar mensagens recebidas ou ligações perdidas. Nada, ele sabia que não haveria nada.
Olhando a data percebeu que seu aniversário se aproximava. Já passava dos 25, e com todas as pressões do mundo para que ele fosse um 'adulto normal, casado e com filhos, consumidor e consumista' [e extremamente infeliz], considerou o dia um tanto melhor.
Resolveu dar de ombros e seguir suas próprias opiniões, e a única idéia que tinha na cabeça naquele momento era de seguir como estava. Em time que se ganha, não se mexe.

sábado, 8 de março de 2008

Desmemórias- capítulo ??

Ele, um formando do 3º colegial. Ela, uma garota do 2º ano.
Um festival cultural, ou algo do gênero. Barracas montadas por todos os lados, cada qual com seu tema. Mas a que mais chamava atenção era um 'experimento científico', uma piscina que contava com a devida caracterização e algumas parafernálias para simular as ondas de um oceano. Não só o maior chamariz como também o que mais impressionava, exatamente por destoar de todas as outras.
Ele um dos responsáveis pela caracterização, e no horário de descanso de um ou outro também cuidava do experimento, que era o principal objeto [pelo menos para os estudantes que buscavam nota pela participação].
As pessoas passavam, naturalmente curiosas, perguntavam, ele com muita paciência sempre respondia tentando não parecer automático. Mas não podia deixar de notar, numa barraca logo à frente, ela, a estudante do 2º ano que já há algum tempo lhe chamava a atenção.
Ele, um tímido estudante do 3º ano, nada 'famoso' por sua popularidade no colégio. Na sua cabeça visualizava uma bela praia de água bem azul, num entardecer já quase noite, com ela ali por perto, querendo estar com ele. Tudo isso enquanto repetia várias vezes o que significava tal engenhoca, e ao mesmo tempo não perdendo de vista a garota do estande à frente, que, acreditava ele de longe, se tratava de algo relacionado a Culinária.
Ele, que nos poucos momentos de descanso procurava por ela, julgava que a garota sequer o notava ali, tanto pela correria do evento quanto pelo simples fato de ele mesmo não chamar tanta atenção...
Era quase meio-dia. Perto da hora do almoço e do tempinho para o descanso, antes de retomar para o resto da tarde. Finalmente podia revezar com outros alunos [que, ao contrário dele, não se importavam em chegar mais tarde]. Foi tomar uma água, passear pelos estandes. Mas o que queria mesmo era chegar mais perto dela.
Chegando no estande ele pôde notar que era uma oficina de culinária, de doces e salgados simples. Ensinavam a fazer e também cobravam pelos mesmos e ele logo pôde vê-la literalmente com a mão na massa. Nunca haviam se falado, ele apenas a observava de longe.
Então lhe perguntou se era fácil fazer aquilo tudo, se ele podia aprender, ao passo que ela lhe respondeu sorrindo, mas naturalmente simpática como sempre fôra com todos.
Parou ali mesmo para fazer um lanche e perguntou a ela quando faria uma pausa. 'Já já to saindo, 5 minutos', disse ela, quando ele tomou talvez a mais ousada atitude de toda sua curta vida: lhe perguntou se gostaria de ir à sala de descanso [também uma parte do projeto, um ambiente com puffs e música suave para as pessoas relaxarem].

Foram então, caminhando a passos ligeiramente tranqüilos para quem acabava de sair de uma 'confusão'. Ele, talvez pela situação inédita de mais liberdade em relação ao dia-dia do colégio, perguntava coisas a ela como se soubesse o que fazer para atrair a atenção dela. E ela, não a 'mais conhecida' do colégio, se é que havia isso, mas conhecida sim por ser simpática e fácil de lidar com pessoas, desde que não fossem egoístas.
Então, para aproveitar da ousadia, já perto da sala de descanso, lhe perguntou se já o havia notado no colégio, já que estudavam ambos há vários anos lá.
A resposta dela, que saiu rápido de sua boca lhe causou o efeito contrário: ficou sem ação, sem perceber por quanto tempo. 'Mas claro! 10 anos estudando aqui, dá pra conhecer quase todo mundo. Sempre te vejo com os caras do 3º ano'

Aquilo lhe martelou na cabeça e tornou suas falas monossilábicas mesmo quando já estavam sentados nos puffs, folheando revistas e observando o movimento, cumprimentando um ou outro amigo que passava por lá. Se perguntava se ela quis dizer que o notava no geral ou se havia mesmo um interesse particular nele. Mal se dava conta de que a conversa continuava e ele lhe respondia poucas palavras, como se estivesse num transe.

De repente se viu abraçado com ela. A 'brincadeira' havia começado por sugestão de uma amiga dela, que junto com alguns outros por ali faziam uma rodinha. Ela falava com o rosto bem perto ao dele, que sentia o perfume dos cabelos e mal ligava para o que ela dizia.
Então as palavras foram ficando mais próximas. A boca dela mais perto do rosto dele. Na bochecha, depois no canto da boca. Logo ele se virou, colocou gentilmente a mão em suas costas... E estavam num beijo que, ao menos para ele, parou tudo ao redor e o fez sentir, de novo, naquela praia.

Ele acordou. Não era o garoto de dezessete anos. Mais precisamente, quase dez anos havia passado. Sabia que fôra um sonho, mas não era isso que o inquietava. Era parte sonho, parte lembrança, e suas lembranças volta e meia o perseguiam.