sábado, 8 de março de 2008

Desmemórias- capítulo ??

Ele, um formando do 3º colegial. Ela, uma garota do 2º ano.
Um festival cultural, ou algo do gênero. Barracas montadas por todos os lados, cada qual com seu tema. Mas a que mais chamava atenção era um 'experimento científico', uma piscina que contava com a devida caracterização e algumas parafernálias para simular as ondas de um oceano. Não só o maior chamariz como também o que mais impressionava, exatamente por destoar de todas as outras.
Ele um dos responsáveis pela caracterização, e no horário de descanso de um ou outro também cuidava do experimento, que era o principal objeto [pelo menos para os estudantes que buscavam nota pela participação].
As pessoas passavam, naturalmente curiosas, perguntavam, ele com muita paciência sempre respondia tentando não parecer automático. Mas não podia deixar de notar, numa barraca logo à frente, ela, a estudante do 2º ano que já há algum tempo lhe chamava a atenção.
Ele, um tímido estudante do 3º ano, nada 'famoso' por sua popularidade no colégio. Na sua cabeça visualizava uma bela praia de água bem azul, num entardecer já quase noite, com ela ali por perto, querendo estar com ele. Tudo isso enquanto repetia várias vezes o que significava tal engenhoca, e ao mesmo tempo não perdendo de vista a garota do estande à frente, que, acreditava ele de longe, se tratava de algo relacionado a Culinária.
Ele, que nos poucos momentos de descanso procurava por ela, julgava que a garota sequer o notava ali, tanto pela correria do evento quanto pelo simples fato de ele mesmo não chamar tanta atenção...
Era quase meio-dia. Perto da hora do almoço e do tempinho para o descanso, antes de retomar para o resto da tarde. Finalmente podia revezar com outros alunos [que, ao contrário dele, não se importavam em chegar mais tarde]. Foi tomar uma água, passear pelos estandes. Mas o que queria mesmo era chegar mais perto dela.
Chegando no estande ele pôde notar que era uma oficina de culinária, de doces e salgados simples. Ensinavam a fazer e também cobravam pelos mesmos e ele logo pôde vê-la literalmente com a mão na massa. Nunca haviam se falado, ele apenas a observava de longe.
Então lhe perguntou se era fácil fazer aquilo tudo, se ele podia aprender, ao passo que ela lhe respondeu sorrindo, mas naturalmente simpática como sempre fôra com todos.
Parou ali mesmo para fazer um lanche e perguntou a ela quando faria uma pausa. 'Já já to saindo, 5 minutos', disse ela, quando ele tomou talvez a mais ousada atitude de toda sua curta vida: lhe perguntou se gostaria de ir à sala de descanso [também uma parte do projeto, um ambiente com puffs e música suave para as pessoas relaxarem].

Foram então, caminhando a passos ligeiramente tranqüilos para quem acabava de sair de uma 'confusão'. Ele, talvez pela situação inédita de mais liberdade em relação ao dia-dia do colégio, perguntava coisas a ela como se soubesse o que fazer para atrair a atenção dela. E ela, não a 'mais conhecida' do colégio, se é que havia isso, mas conhecida sim por ser simpática e fácil de lidar com pessoas, desde que não fossem egoístas.
Então, para aproveitar da ousadia, já perto da sala de descanso, lhe perguntou se já o havia notado no colégio, já que estudavam ambos há vários anos lá.
A resposta dela, que saiu rápido de sua boca lhe causou o efeito contrário: ficou sem ação, sem perceber por quanto tempo. 'Mas claro! 10 anos estudando aqui, dá pra conhecer quase todo mundo. Sempre te vejo com os caras do 3º ano'

Aquilo lhe martelou na cabeça e tornou suas falas monossilábicas mesmo quando já estavam sentados nos puffs, folheando revistas e observando o movimento, cumprimentando um ou outro amigo que passava por lá. Se perguntava se ela quis dizer que o notava no geral ou se havia mesmo um interesse particular nele. Mal se dava conta de que a conversa continuava e ele lhe respondia poucas palavras, como se estivesse num transe.

De repente se viu abraçado com ela. A 'brincadeira' havia começado por sugestão de uma amiga dela, que junto com alguns outros por ali faziam uma rodinha. Ela falava com o rosto bem perto ao dele, que sentia o perfume dos cabelos e mal ligava para o que ela dizia.
Então as palavras foram ficando mais próximas. A boca dela mais perto do rosto dele. Na bochecha, depois no canto da boca. Logo ele se virou, colocou gentilmente a mão em suas costas... E estavam num beijo que, ao menos para ele, parou tudo ao redor e o fez sentir, de novo, naquela praia.

Ele acordou. Não era o garoto de dezessete anos. Mais precisamente, quase dez anos havia passado. Sabia que fôra um sonho, mas não era isso que o inquietava. Era parte sonho, parte lembrança, e suas lembranças volta e meia o perseguiam.

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