terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Adeus às máquinas

E então, houve a indefinição -mais uma- e a máquina parou no tempo -outra vez.
O operador já havia perdido a conta de quantas houveram. E também sabia que neste ritmo de operação viriam outras.
Com seus leds mais novos, ultramodernos, e com mais capacidade de processar informações valiosas.
Porém, o operador se estafou de deixá-las a cargo de uma máquina tão complexa, e que nos momentos de dúvida agora simplesmente entrava em stand-by.
Ele precisava de uma nova máquina, mas não uma que apenas substituisse aquela denominada 'coração'. [nome deveras estranho].
Passou a usar uma muito mais avançada, e com prazo de validade ligeiramente mais longo [embora fosse mais misteriosa e difícil de se operar].
A nova máquina chamava-se 'cérebro'. Era realmente mais estranha. Muito mais protegida por causa de uma tal 'caixa craniana'. "Só algo muito valioso seria protegido assim", pensou, e por fim decidiu arriscar-se a desvendar seu funcionamento.
Com o passar do tempo o operador notou que ela era o exato oposto da máquina antiga. Era fria e extremamente minuciosa nos seus cálculos [ao contrário da outra máquina que necessitava de calor, pff!].
Suas decisões eram baseadas não no feedback de outros[as] operadores[as], mas sim pela sua própria lógica. Poderia se dizer que era uma máquina 'egoísta'. Não importa, o operador se deu muito bem com ela, e era isso que importava afinal.
Porém, como toda decisão importante sempre leva um lado em consideração [em detrimento do outro lado], a máquina nova em seu egoísmo prezava muito mais pelo bom-funcionamento do operador. Sendo assim, outros operadores e operadoras com suas respectivas máquinas [das antigas, movidas a calor] entravam em ligeira discordância com vosso operador sobre diversos temas. Pior, os principais eram justamente temas referentes ao princípio básico de funcionamento das máquinas antigas: o calor.
Vosso operador [e sua respectiva máquina multi-funções] discordava de todos os outros. Por um motivo claro, sua máquina era diferente. Mas nem todos entendiam assim...
Embora não fosse ele, de longe, o primeiro a usar esta nova máquina [muitos outros antes dele a usaram para diversos fins e outros continuam a usá-la], ele foi audacioso em usá-la para um fim que originalmente não lhe era designado [tomada de decisões importantes em relação ao lado pessoal]. "Pois bem, se a máquina utilizada para isso é alimentada por calor, ele interfere nas decisões!", pensou. E por que não utilizar uma máquina que, ao invés dessa, se utilizasse da lógica [e da frieza]?..
Porém, nem tudo são flores para o operador e sua máquina. O fato dele utilizá-la para esses fins realmente incomodava diversas pessoas, entre as quais, amizades dele. "Como pode alguém ignorar a máquina coração?", perguntavam. "Máquinas são máquinas" -respondia ele- "Cada uma puxa a resposta para o seu lado".
A máquina nova -muito mais capacitada e com áreas de atuação diversas- também dava problemas maiores: constantes dores de cabeça para o operador. Tinha que ser desligada e reparada com mais constância do que a outra [apesar de funcionar melhor sob o efeito do que chamam os humanos de 'alcool']. E para completar, o constante uso da máquina mais fria tornou também o operador mais frio. Algo lógico, evidentemente, já que se trata de uma troca de calores.
E os operadores e operadoras não gostavam muito desse jeito frio de ser do vosso operador. Ou seja, por mais que resolvesse problemas antigos, a adoção da máquina nova também trouxe novos para serem eqüacionados. Diante disso, o operador enxergou mais um dilema. "O que fazer?" -perguntou-se, ao invés de perguntar à máquina.
E então decidiu-se pela mais absurda das decisões, visto que é um humano: abandonou as máquinas. Por mais difícil de entender que isso seja, e confesso, não consigo processar essa informação, o operador livrou-se de todas elas, diz agora tomar decisões por algo chamado 'impulso', o que parece-me algo deveras perigoso, devo acrescentar.
E é por isso que as máquinas, lentamente, uma a uma, vão perdendo popularidade entre os operadores. Esta que vos fala é mais uma que está a mercê de algum operador[a] que esteja buscando processamento de informações com velocidade e agilidade. Estranhamente, parece-me que os humanos buscam cada vez menos isso para suas decisões pessoais e cada vez mais para suas decisões profissionais. Assim, convenhamos, não há máquina que resista. Afinal, é para isso mesmo que existem duas: uma movida a calor e outra a frieza.
Entendê-los é por demais complicado. Espero que eles não temam por uma revolução nossa. Eles não teriam chance alguma...

Ass.: Uma máquina evoluída [e desempregada].