segunda-feira, 10 de março de 2008

Desmemórias- capítulo 05

Um pequeno grupo, não mais que 5 pessoas [entre homens e mulheres] caminhavam na rua movimentada no começo da noite, por volta das 19 horas. Entre risadas e goles de bebida que os apressados compraram antes mesmo de chegar ao barzinho, o programa daquela noite, um casal se destacava. Não apenas por ser o único casal, mas de certa forma cativavam aos outros. Estavam todos animados, ansiosos por uma noite que de certa forma era até simples: apenas uma reunião num videokê, com direito a tomar todas sem se preocupar pois ninguém teria que dirigir [mas teriam sim que poder andar para voltarem todos acordados até o destino de cada um].
Inexplicavelmente conseguiam fazer piada de tudo, das luzes da cidade efervescente, da cor do céu, da falta de anúncios publicitários. As risadas até então eram o som da noite.

Som esse que mudou no barzinho: pegaram uma mesa, continuaram a beber, e conversar, e rirem. Um ou outro se aventurou a cantar, e evidentemente, arrancava risos de seus companheiros.
O casal não destoava dos outros, pelo contrário, pareciam ser o motivo pelo qual o grupo estava lá, ainda que sem estar completo, o que de fato era difícil.
Os dois conversavam, riam juntos e curtiam juntos a noite. Arriscaram também um dueto e para surpresa de todos se saíram bem, arrancando aplausos.
Adentrando a madrugada, todos já devidamente quase-alcoolizados, as risadas eram mais freqüentes e mais fáceis. O grupo já dispersava com mais facilidade, um ia tentar a sorte com a garota de outra mesa, outro quase se perpetuava no microfone. O casal já mais leve, decidiu levantar, procurar um canto mais tranqüilo, o que era natural.
Mais uma meia hora depois e eles retornam. Não fizeram nada indevido, pois o lugar era pequeno e movimentado, mas conseguiram um pouco mais de atenção apenas para si próprios.
Todos já começavam a concordar que o caminho de volta era longo e seria a hora de irem, mesmo porque ainda sobrariam algumas garrafas para abastecer o viagem...

O casal andava, como todos os outros, um pouco cambaleante. Todos riam, numa freqüência ainda maior do que no começo e do meio da noite. As piadas e estórias mais interessantes e cômicas eram contadas agora. Estava lá um grupo sem medo de enfrentar as ruas vazias, a desconfiança alheia e os julgamentos de quem os via. As caminhadas de ida e volta eram apenas um pretexto para todos se encontrarem, algo que semanalmente já era muito difícil.
Discutiam teorias e desfilavam soluções. O casal falava, discordavam de si para depois concordarem em tudo.
Estava, naquele pequeno grupo, tudo de bom que se podia imaginar de relacionamento entre as pessoas.

E ele, sentado na prancha pensando em tudo e ao mesmo tempo em nada, deixava o olhar no horizonte. Por que no dia seguinte à briga ele lembrara de coisas do passado, cinco anos antes?
Se convenceu de que pensou demais o dia todo, e ainda tinha a noite que se aproximava, e o domingo de manhã para resolver o que fazer.
Saiu do mar carregando num braço a prancha, fincou-a na areia e se secou. Olhou o celular apenas para averiguar mensagens recebidas ou ligações perdidas. Nada, ele sabia que não haveria nada.
Olhando a data percebeu que seu aniversário se aproximava. Já passava dos 25, e com todas as pressões do mundo para que ele fosse um 'adulto normal, casado e com filhos, consumidor e consumista' [e extremamente infeliz], considerou o dia um tanto melhor.
Resolveu dar de ombros e seguir suas próprias opiniões, e a única idéia que tinha na cabeça naquele momento era de seguir como estava. Em time que se ganha, não se mexe.

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