sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Desmemórias- prólogo

Um caminho de pedras, talvez mal iluminado. As duas mãos nos bolsos da calça, a jaqueta fechada. Tentando proteger da garoa cortante, mas não o consegue. A pé, sem mp3 player no ouvido. Na cabeça, filmes de acontecimentos de outrora e outros que nunca existiram.

Das pedras para a calçada, ao lado do canteiro de flores que se abrem no outono. Poucas pessoas por ali, bancos de praça, apenas alguns casais. Uma música calma toca bem distante. Os que ali estão acompanhados não se importam com o vento e a chuva.

Os filmes se acentuam na cabeça. O destino está mais próximo, e isso é motivo de mais apreensão do que felicidade. Parece que os dias estão contados, ele quer tentar uma sobrevida. Mãos fora do bolso sacam o celular, avisando que está para chegar. Leve discussão, ele logo desliga e aperta o passo. Tenta não levar as mãos aos olhos porque não quer lacrimejá-los mais.

Se pergunta se não faltou dizer algo, até ali. Os ônibus cortam-lhe os pensamentos passando feito flechas na avenida. Ele olha as horas. Largou mais uma noite de estudos para ir até lá. Tem que acordar cedo. Quer sumir. Com ela.

Ele interrompe o jantar. Consegue cinco minutos para tentar se explicar. Não parece adiantar, ela está irredutível. Ele já não sabe mais perguntar nada além de 'por que?'
Ela lhe diz que tem que ser assim.
Ele se dá por vencido, forçado pelas circunstâncias. Vai embora pelo mesmo caminho, agora olhando apenas para baixo. Não sabe mais no que pensar. Só conta as horas para tentar outra chance de vê-la, na desculpa de apenas conversar...

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