quinta-feira, 7 de junho de 2007

Mudernidade

[pedindo licença para a autora da interjeição do título]...

No dicionário, temos como mais perto de 'modernidade':


modernice s.f. 1 Apego exagerado a coisas ou idéias modernas. 2 Mania de querer passar por moderno.


E para nós, seres humanos do século XXI, dotados de polegares opositores e o chamado 'livre arbítrio', mudernidade vem a ser algo muito comum, caminhando próximo com a modernice.
Hoje tudo está na rede. Quer achar um endereço? Sites de mapas temos vários. Quer fazer uma pesquisa? Wikipedia está lá maravilhosamente nos esperando. Quer achar sites com conteúdos específicos, ou mesmo aquele poema que você não acha mais porque seu livro do colégio está perdido em algum lugar do passado, Google nele!
É tudo tão fácil que chega a ser ridiculamente preguiçoso. Graças ao bom Deus nos meus tempos de colégio o Google ainda caminhava, pois assim aprendi que trabalho escolar não é ctrl + c, ctrl + v e ctrl + p... Há até poucos anos atrás aprendíamos a pensar, hoje aprendemos a pesquisar e copiar, e os microssegundos que a pesquisa dura dão uma noção do 'orgasmo intelectual' que é procurar algo na rede... Hoje há de tudo, até em exagero. Muito exagero, por sinal. Nos meus tempos de colégio sofríamos de escassez de informações na rede, assim tínhamos o hábito de pegar livros na biblioteca [ah sim, na faculdade também, mas nela havia a desculpa dos conteúdos serem extremamente específicos...] Hoje não, sofremos sim pela superabundância de informações. É tanta coisa em tanto lugar que separar o joio do trigo não é pra qualquer um...
E isso se levarmos em conta apenas a esfera de conteúdo 'útil' da rede, pois o inútil é amplamente maior [redundantemente dizendo]. Programas dos mais diversos, cada um pra um tipo específico de ação. Quer baixar músicas ou vídeos? Há um programa. Quer proteger o computador? Existem vários tipos de programas, do antivírus ao firewall... Quer se comunicar? Nossa, programas de mensagens instantâneas são cada vez mais diversos e multifuncionais... Faz- se de tudo para que você não saia da frente da tela por um minuto. Jogos, conversas em vídeo, áudio, manuscrito, chats... Se duvidar logo vai ter como mandar sinal de fumaça por eles!
[E vejam bem, ainda nem falei dos sites...]
Ah sim, pois bem, os sites. Com a explosão da internet no nosso país, quando a internet gratuita surgiu, eles foram ficando cada vez mais aprimorados. Novas linguagens de programação eram dominadas pelos nossos amigos que identificaram nisso uma boa oportunidade pessoal, financeira, etc etc., com a contribuição, claro, da melhoria gradual nos hardwares dos usuários de computadores. Sites de jogos, enciclopédias virtuais, comunidades mundiais de pessoas, postagem de vídeos, blogs, fotos, etc etc...
Muito bonito e próspero, por sinal.
Mas aí há um pequeno problema, que começou como uma coceirinha de nada e foi crescendo... E crescendo... E logo se tornará um problema de âmbito nacional: nossas redes de telecomunicações, sob raras exceções, são velhas e desgastadas. Alguns muitos lugares do Brasil nem banda larga têm ainda [e vejam bem, nem são lugares isolados.] É no mínimo curioso que no país da urna eletrônica [que já deveria ter sido exportada] não haja uma rede de telecomunicações capaz de dar conta do fluxo de informação que rola na rede. Claro, por isso todos nós temos uma grande culpa, com nossa avidez por nos mudernizarmos...
E nos irritamos a ponto de querer descontar nos nossos 'pobres' hardwares, que nada têm a ver, estão ali se esforçando, como máquinas, para nos trazer tudo que os dedos clicam através do mouse e digitam pelo teclado. É tão engraçado que para dormirmos tranquilos temos que dar um alt + F4 na mente, senão ficamos pensando no que deixamos de fazer na rede no dia que passou...
Para terminar, um ótimo exemplo do que a mudernidade nos traz: o ato de emular [reproduzir com efeitos próximos] as coisas. Começou com jogos de videogames quase extintos, como nosso saudoso Atari, e hoje já emularam até as drogas. E com resultados muito próximos aos reais. [Aí os leitores vão me perdoar, mas eu como bom careta que sou, nunca experimentei drogas ilícitas...]
Mas confio, evidentemente, na descrição de quem já as tomou. E a emulação de sentimentos não parou com as drogas não. Estão indo cada vez mais longe, reproduzindo sensações do big-bang [sim, aquele mesmo que originou o Sistema Solar], de estar sonhando acordado [e eu realmente me senti levitando!], sensações de estar fisicamente com alguém que não está perto de você [e olha que os resultados são bons...], sensações de criatividade e inspiração, e, pasmem, até de orgasmos.
Ahh, essa mudernidade... Eu prefiro ser careta, baixar e-books pra ler, ter conversas com pessoas cults que tenham gostos que completem os meus, passar o tempo a toa pesquisando sobre filósofos dos quais eu ainda não li as obras, ver filmes que me deixem com cara-de-ponto-de-interrogação, e , principalmente, procurar nessas poucas pessoas algo que me inspire, que me incite. E consegui. Obrigado, Srta. autora do termo que eu tomei emprestado! Me deixaste com o ponto de interrogação na testa, hoje.
E, ao elaborar um texto capaz de descrever toda essa mudernização em minha mente, a sensação quando a conclusão deste texto pseudo-explicativo se aproxima, é a de um orgasmo intelectual. Desta vez sem aspas, porque essa é uma sensação que mesmo os brilhantes técnicos do I-doser devem demorar MUITO a conseguir reproduzir...

[Ah, como eu amo a metalinguagem.......]

Um comentário:

uma pessoa aleatória disse...

uma interjeição: caracas !
em primeiro lugar, ADOREI o post.
o texto é do tipo que se lê com um sorriso no rosto e assentindo com a cabeça, ao concordar e se identificar com várias passagens.
mas, sobretudo, não deixa de ser meio pessoal, e justamente por isso, altamente instigante ;)

ah... e "mudernidade" continua não sendo interjeição 8)