sexta-feira, 8 de junho de 2012

Não sou conduzido, conduzo

O que é pra você, amigo paulistano, a imagem que define a cidade? Certamente pensou em uma meia dúzia delas. A famosa esquina, o marco-zero, a Paulista, as Marginais... Tudo bem específico.

Pra mim se destacam algumas cenas. Talvez filmes da vida real. Pegar o metrô indo ou voltando para a casa dos meus avós, maravilhado com o metrô em elevado na zona leste. Olhos de criança...
Também, e ultimamente a cena que mais resume, as margens dos trilhos de trem na zona leste, ainda próxima ao centro. Trilhos que dividiram a região em duas quase como um muro de Berlim. Transformou as ruas que deviam ser paralelas em insanos emaranhados sem saída e de confuso tráfego, mesmo pra quem é dali.

Ruas essas em que ainda se vê crianças jogando bola na rua. Como se ainda fôssemos 90 milhões em ação, e a Amarelinha a esperança da nação. Isso de fato mudou. Capitalismo selvagem -e inevitável.
Crianças empinando pipa, até desafiadoramente contra os emaranhados de fios que vão tecendo seus quilômetros cidade adentro, subúrbio afora. Será que ainda se faz pipas em casa? Lembro de ainda pequeno ver irmão e primos cortando varetas, papéis, usando aquela cola de tubo branco e azul com cheiro horrível preparando aqueles quadrados que eu insistia em fazer cair.

Estranho é ter memória olfativa em uma cidade aonde o cheiro se confunde com o odor.
Ou memória fotográfica admirando uma pequena flor, nascida numa árvore média, expremida e ameaçada no canteiro central de uma enorme avenida.
Vidro, asfalto, concreto e metal. Placas, buzinas, faróis e sirenes.

Estranho é encontrar sentido nessa falta de sentido.

A intenção da crônica era destacar uma imagem, que até foi destacada, mas perdeu espaço. Capisco? Assim é Sampa. A gente começa falando de uma coisa, dá a volta no mundo -ou no centro- e termina dizendo... Cadê a minha conclusão?

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