sexta-feira, 29 de junho de 2012

Crônicos

Em assentos opostos, dois homens fazem anotações. Um mais jovem, outro também jovem, mas com aparência mais endurecida. Um faz suas anotações em um moderno aparelho faz-tudo, o outro em um pequeno caderno. Quem anota o quê em qual?

É uma noite fria. Todos no vagão usam seus casacos, cachecóis e blusas.
Ou poderia ser um dia quente, com o sol entrando sem se importar.

Ambos misturam as anotações com os olhares pela janela. Aonde vão? O que pensam?
E voltam-se para suas anotações.

"Vendo sozinho os filmes que deveria ver com você
Pensando sozinho coisas que deveria dizer pra você
Imaginando sozinho a vida que deveríamos ter"

Pensamentos interrompidos. O que anota no aparelho para aumentar o volume da música.
Ou seria o que anota no caderno que levantou para dar lugar a alguém mais velho?

"Mas você não existe. Nós não existimos
Por puro medo de tentar
Puro receio de de se arriscar. De viver
Medo não de dar errado. De dar certo"

Terreno perigoso. Escrever sobre medos?

"Talvez porque nesse mundo em que vivemos
Se sentir realizado seja passível de culpa"

O vento frio passa pelas frestas. Ou seria o sol que se escondeu atrás de uma nuvem?
Decerto que os sentimentos concordam em uma coisa: somos oprimidos. Pelo tempo? Pela vida adulta? Ou por nós mesmos?..

Mas você não existe. Não na minha vida
Nós nunca existimos. Foi só um sonho
Recorrente"

Quem escreveu o quê? Trechos misturados ou idéias parecidas?
Pensamento em alguém, talvez. Alguém específico ou que não existe?
Escrever sobre sonhos... Terreno distante.

E o que será que pensam as pessoas que perdem o olhar ao longe?
Se é que estão mesmo perdendo...

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