domingo, 1 de julho de 2007

A casa da Vila Granada...

Era uma casa bem-habitada. Não tinha riqueza, mas não importava. Ninguém podia reclamar não, porque fora construído um lar naquele terrenão. Ninguém podia deitar na rede, porque não havia ganchos na parede. Ao invés disso sempre havia ali o barulho do piano, sabiás cantando concorrendo com o bem-te-vi. Era repleta de fraternidade, construída com suor e empenho para a posteridade...

Um sobrado diferente, que ficava abaixo do nível da rua e ia descendo. E descendo mais, até encontrar a rua debaixo. No jardim enorme havia galinhas, pés de frutas, plantas e flores e até uma singela estufa. Lugar perfeito para os netos correrem, brincarem, se esfolarem e aprontarem durante anos.
Os almoços de domingo reuniam a família toda para comer o macarrão e as bracholas da Dona Amneris [com direito a molho branco pra quem não gostasse...] A cozinha era tão aconchegante que no processo de fazer o almoço se tornava um forno, e com a mesa posta todos corriam para se acomodar à mesa pequena para se deliciar. Os que não cabiam comiam com o prato na mão, ou então na escada. Isso pra não falar dos aniversários, quando o parabéns era cantado com as luzes apagadas e uma interminável e indecifrável cantoria que terminava com os risos de todos.
Os Natais eram sempre com aquela mesma árvore que não tinha folhas verdes mas era muito bem iluminada, e os presentes do amigo secreto forravam o chão ali perto. Toda reunião era uma festa, uma celebração.
E os anos se passaram, a casa eventualmente deixou de ser o local de reunião, depois voltou a ser, e finalmente se desvinculou da família. Mas a família continua aqui, e sempre irá continuar. Hoje, no dia da demolição do que é 'sólido', resta apenas o que é intangível, mas nos motiva a nos reunirmos sempre que possível. A casa da Vila Granada se foi, mas nos deixou a lição de que um lar nunca se desfaz se a família que o compõe é mais sólida que suas frágeis paredes.

Um salve para aqueles que do lado de lá sempre nos acompanham e nos guiam, independente de onde estivermos!

Um comentário:

Unknown disse...

era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada, ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão; ninguém podia dormir na rede, porque na casa não tinha parede, ninguém podia fazer pipi....