Mais um quarteirão a frente, restavam apenas dois ou três. Passaram em frente ao shopping/cinema, e comentando os cartazes dos filmes novamente discordavam um do outro.
Ao atravessarem a avenida conhecida por ‘casas de entretenimento adulto’ [e nem sempre apenas servidas de mulheres], as piadas foram inevitáveis: ela disse-lhe que ele estaria morrendo de vontade de entrar em alguma ‘casa’ daquelas. Ele respondeu com um cinismo, perguntando se não era por ali que ela trabalhava... Ganhou mais um beliscão, dessa vez no outro braço.
Perto do último quarteirão, faltando cinco minutos pra meia-noite, passaram em frente a uma entrada do metrô. Ele olhou, e disse a ela em um tom um tanto pessimista que quando passassem pela mesma entrada no outro lado, já passaria da meia-noite, portanto talvez não desse tempo dela pegá-lo. “Preocupado com isso?”, perguntou ela, sem ouvir resposta. Ele apontava para um café, do outro lado da avenida, como o ‘ponto final’ para a decisão de ambos. Ela concordou.
O nervosismo e a pressa inexplicável fez ambos queimarem a língua. Meia-noite, um, dois, três, quatro, cinco minutos. Se olharam, e sem se falarem andaram mais poucos metrôs. “Pára”, disse ela.
- Então... É o fim da noite, certo? –perguntou a garota-
- Bom... O fim é. Mas qual fim?
Ela pediu a ele que fechasse os olhos, ele o fez prevendo um beijo.
Ouviu a voz dela um pouco a frente dizendo alto “Pode abrir!” E percebeu que ela caminhava em direção ao metrô, prestes a fechar.
Conformado, porém com uma ponta de decepção ele deu poucos passos até a direção dela, que caminhava de costas, olhando a reação dele. Falou alto, contrariando seu próprio gosto, perguntando “Então é assim?!”. Ao longe, a garota exclamou “Ah, esqueci uma coisa!..”
Caminhou novamente na direção dele, deu-lhe um rápido beijo na bochecha, esfregou a pequena mancha de batom e disse “Você ta me devendo um encontro amanhã à tarde, esqueceu?!”. E virou as costas de uma vez, correndo para a escadaria do metrô.
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