domingo, 27 de setembro de 2009

Desmemórias- capítulo 07

Nada poderia ser pior...” Ele pensou. O motivo: a chuva torrencial que pegou ele e a amiga do amigo de surpresa.

Estavam se falando praticamente pela primeira vez, quase dois desconhecidos, aproximados por um amigo [da onça] em comum. Para tentar quebrar o gelo da situação inusitada, ele sugeriu a ela, ao telefone, que fizessem no mesmo dia dois programas: um que ele sugerisse e outro que ela assim o fizesse. Como ‘brincadeira’, ambos anotariam mentalmente pontos que gostassem e não gostassem em ambos os encontros. Caso desse certo, sairiam outra vez... Ela gostou dessa estranha sugestão, e talvez por ser mesmo diferente do usual, concordou.

Ele escolheu o dia, e ela a noite. Ele então a levou para uma escalada em um dos picos nas redondezas da cidade. Em seu próprio carro, que a contragosto resolveu comprar e estava pagando a duras penas...

Mas a surpresa foi que no meio do caminho o céu nublado que ele de forma otimista dizia que iria abrir, na verdade despencou. Teve que encostar o carro, e esperar. Não sabia o que dizer, a não ser reclamar da chuva e xingar, ainda que se contendo na frente dela. E ela ria...

Isso não o agradava, nada o agradava, mas ao pensar que não havia o que fazer, e que devia ser mais gentil com ela, se conformou... Ela sugeriu o rádio, e ficaram alguns minutos discutindo um o gosto do outro, em meio a risos. Até ela desligar o som, aparentemente só para provocá-lo. Ele não se importou, e perguntou a ela “E agora? Com essa chuva vamos ter que voltar, já era a nossa escalada!..”

Ela concordou, já que a chuva parecia diminuir, ao menos o granizo acabara. Ele perguntou se devia deixá-la em casa, ela disse que sim, mas sem o deixar esquecer que a noite fariam o que ela havia programado.

Ele pensava que a garota era dura na queda, não dava o braço a torcer em nada –assim como ele- e tinha uma personalidade marcante. E ao mesmo tempo parecia insistir em provocá-lo, o que ele não sabia ser apenas por diversão ou para ganhar sua atenção. Por causa dessa intriga esboçou um sorriso mínimo, imaginando o que viria noite adentro.

Deixou-a na portaria do prédio, ouvindo dela mais um lembrete de não se esquecer de pegá-la às 20hs, com um leve tom de ironia na palavra ‘esquecer’...

Então ele assim o fez. Pontualmente, algo que ele mesmo não gostava, se prender aos ponteiros do relógio, se prender a horários de outras pessoas... A noite era quente, mas mesmo assim ele se arrumou considerando que ela escolheria uma balada qualquer, com calça jeans e camiseta, formal como sempre. Interfonou, ela avisou que estava descendo e em poucos minutos estava em frente do carro dele, de shorts, camiseta e tênis... “Você vai assim?!” Perguntou, sem conseguir disfarçar o espanto. “Você não sabe aonde vamos!..” Respondeu ela sem deixar a ironia de lado. “Ta bom então”. Um pouco contrariado ele sequer abriu a porta pra ela, que o fez sozinha, ligou o carro e saiu. “Pra onde vamos?”, perguntou novamente. “Pra avenida.”, respondeu ela, indicando a avenida mais movimentada da cidade e fazendo-o virar o pescoço com estranheza novamente. Chegaram ao local, ela sugeriu que ele parasse em algum estacionamento 24hs, e ele o fez, quase ao meio da avenida de mais de um quilômetro de extensão.

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