O apartamento tinha as luzes apagadas. Ele tentava não fazer barulho, mas lhe incomodava um pouco o fato de não poder se sentir a vontade. Tinha visita no quarto extra. Lhe parecia confuso quem estava lá, se um parente ou alguma outra pessoa. Os dias passavam confusos a ele.
Achando que nada que fizesse acordaria o [a] hóspede, abriu a cortina da sala. Olhou pro céu negro-azulado. Um imenso relógio digital no topo de um prédio ali perto marcava 04:00hs.
Ficou alguns segundos calado em seus pensamentos, avaliando aquelas luzes que jamais paravam de piscar. Ele mal dormira, e nem mesmo o fato de ter alguém no apartamento lhe impediu de dar uma das costumeiras voltas pela rua quando o sono não lhe encontrava.
A vontade na rua que já apresentava certo movimento [ou ainda apresentava movimento], ele andou alguns metros até a padaria da esquina.
24 horas. Ele lia o letreiro de neon, e tinha impressões retrô do que seria aquele lugar 30, 40 anos antes. Gostava de parar pra pensar em coisas tolas, que outras pessoas ignoram. Pediu, como sempre, a maior das xícaras com um forte café, acompanhado de conhaque. Se aquilo lhe dava disposição para o dia era um mínimo detalhe, o fazia porque gostava, talvez por vício, talvez por não ter nada mais a fazer num horário insólito como aquele.
Ao menos lhe ajudava a cobrar consciência, e ele começava a lembrar mais claramente do que vinha acontecendo. E se arrependeu, culpou o café, falou meia dúzia de palavrões pra si mesmo, ou então para os arruaceiros que passavam ali por perto, talvez.
- Conhaque vagabundo -murmurou, mas pediu uma dose a parte.
Sabia que uma dose de realidade, ainda que às quatro da manhã, é necessária para alguém que foge dela durante o dia.
E lembrou então de que dia era. Sexta-feira. Tinha um 'importante jantar' com a mãe da sua 'amiga'. Ele relutou o quanto pôde, mas como ela deixou escapar algo pra mãe sobre um rapaz com o qual estava saindo, não houve jeito.
Ela, separada de seu pai, já achou por ser um namoro sério, quis conhecer o tal rapaz, estava ansiosa pelo dia do tal jantar. Talvez desejasse com tamanha intensidade para a filha um relacionamento seguro que não se deu conta de que a própria filha não admitiu ser um relacionamento.
A noite cheirava a desastre, ele sabia disso, e seu dia já começava mal.
O café e o conhaque desciam queimando. Decidiu voltar, caso a visita acordasse, e já era mesmo hora de tentar algumas horas de sono.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
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